O tio Bené (o mais velho entre os três caçulas) à esquerda, tia Beti à direita - e tome cantoria "das boas"! |
Festa
em família
Feriado em cidade
turística é inverso ao trivial nos centros maiores. Falo de Caldas Novas, onde
os dias de folga atraem visitantes e a população flutuante se torna muito
superior à massa residente. Com isso, há intensa atividade comercial e dos
serviços públicos – em especial pelos que cuidam da segurança e da emergência.
Era manhã, nesta
sexta 21 de abril, quando tomei a BR-153 para, logo, acessar a rodovia estadual
que demanda a Caldas Novas (aqui em Goiás, a imprensa tem o péssimo hábito de
dizer “gê-ó-duzentos-e-trinta e seis” sem dizer a tradução desse código, como
se cada leitor, ouvinte ou telespectador soubesse de cor essas cifras dos
órgãos de construção e gestão das estradas). Pouco depois de deixar Piracanjuba,
peguei trânsito intenso e lento, algo no ritmo dos 60 km/h – ou menos – e
somente após uns 40 minutos apareceu a causa – uma batida de quatro veículos,
que ficaram sem condições de trafegar.
Cheguei à terrinha
natal pouco antes do meio-dia – chovia um chuvisco constante, que exigia ligar
e desligar o limpador do para-brisa. E cheguei para surpresa do meu irmão
Edmar, aniversariante de 70 anos neste domingo, 23 de abril. Disse-lhe “não
poderei vir para o seu aniversário, então vim lhe dar meu abraço”, ao que ele
emendou “Ah! então fique até domingo”. A surpresa deu certo – ele só percebeu
que festejávamos com antecedência quando outros começaram a chegar.
A ideia da
antecipação foi da Leda, filha mais velha do Edmar e da Irani. E logo chegaram
nosso irmão mais novo, o Ângelo, apelidado de Xiu (não me perguntem), e a outra
filha, Regina. E os netos, um bando de sobrinhos e primos, e ainda nossos tios
Geruza e Benedito (irmãos de nosso pai). Tia Geruza não conseguiu, em momento
algum, atender aos nossos pedidos para que cantasse: ao violão, o tio Bené,
lembrava meu avô (que se foi sem pedi licença, aos 78 anos) e de meu pai. E
cantamos, todos juntos, canções compostas por eles. Era a alegria pelo
encontro, mas com a tristeza da saudade sem solução – e reafirmo que somos
todos masoquistas.
Tia Geruza: a emoção trava a garganta... |
Faltaram nossas
irmãs – Eliane ficou em Goiânia e Auxiliadora em Uberlândia, cada qual envolvida
com suas coisas de vida. Bené, o primeiro dos meus tios caçulas (são três os
meus tios mais novos que eu), disse-me que todos os dias, ao se levantar, “conversa”
com seu irmão mais velho (meu pai, falecido em 2011), pedindo-lhe: “Israel,
ajude-me a tocar tão bem quanto você”. A tia Beti, viúva do Rui, dá-se ao luxo
e nos dá a alegria de sua voz bonita, afinadíssima e imutável! E ali estava ela
com quatro gerações – filha, netos e bisnetos!
O selo Boteco Aquino é para que nenhum vereador, em qualquer lugar do Brasil, me encha paciência. Somos, sim, de boteco. |
Olhei meu irmão,
sem comentar nada. Seus cabelos, mais brancos que os meus, eram claros como os
de espiga de milho, loiros na infância, castanhos na juventude e precocemente
grisalhos e, enfim, brancos, bem antes que minha cabeça se tingisse de cinzas. Recordei
nossas brigas de infância, nosso exílio de adolescência no Rio de Janeiro, com nossa
avó, tios e tias da banda materna. Nosso retorno a Goiás – eu fiquei em
Goiânia, ele escolheu Caldas Novas; revi os nascimentos de nossos filhos –
enfim, este nosso envelhecer em torno da casa da família maior, sempre
agregando nossas próprias proles e companheiras...
Um beijo, meu
irmão! Sabemos, agora, que o tempo é curto. Aproveitemo-nos mais vezes!
Edmar é o da direita. Entre nós dois, o caçula dos homens - Ângelo (ou, simplesmente, Xiu). |
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Adriano Curado