sexta-feira, 1 de abril de 2016

Sebastião Pompêo de Pina

SÉRIE BIOGRAFIAS
SEBASTIÃO POMPÊO DE PINA

Foto do arquivo de João Basílio de Oliveira

Sebastião Pompêo de Pina (Pirenópolis, 16.9.1865 – 3.2.1927) foi intendente, vereador, juiz municipal, ator e coreógrafo.

Era filho do Capitão Antônio Luiz de Pina, próspero comerciante, e de Ludovina Alves de Amorim, filha do Capitão Luiz Alves de Amorim e de Ana Joaquina da Paixão Veiga. Sétimo filho de uma prole de oito, eram seus irmãos: Braz Aristófanes de Pina, Sofia de Pina, Antônio Luiz de Pina (Tonico), Natália de Pina, Maria de Pina, José Joaquim de Pina (Zuca) e Joaquim Propício de Pina. (1)

Major Sebastião foi descrito por Jarbas Jayme da seguinte forma: “Ótimo cidadão e modelar chefe de família. Exerceu, com dignidade, relevantes funções públicas, eletivas e de nomeação, de entre as quais a de vereador municipal, por diversas vezes, de juiz municipal e de chefe do executivo do município de Pirenópolis, no período de 1.7.1899 a 31.10.1903. Em sua proveitosa e honesta administração foi edificada, sobre o rio das almas, ligando a cidade ao bairro do Carmo, belíssima ponte.” (2)

Sobre sua atuação no teatro, seu filho Taozico Pompêo nos conta que ele foi “o grande pioneiro do teatro em Pirenópolis, o homem que dedicou toda a sua preciosa existência, já como encenador, já como ator, em prol dessa arte maravilhosa, herdada de nossos antepassados, fazendo com que ela se tornasse, com o decorrer dos tempos, uma tradição, cada vez mais arraigada nos costumes de nossa gente.” Consta ainda que o pai desde “muito jovem, já encenava, quase sempre por ocasião das Festas do Divino, peças teatrais nas quais interpretava, algumas vezes e sempre com grande sucesso, o principal papel.” (3)

A peça teatral As Pastorinhas é hoje encenada no teatro de Sebastião


Ainda no século XIX, Sebastião encenou, em barracões improvisados nas ruas, as peças: “Inconfidência Mineira”, “Atarxerxis”, “D. Cezar de Bazan”, “Demofonte”, “Lágrimas de Maria”, “Guerras de Alecrim e Mangerona” e “Estátua de Carne”. (4)

Nesta foto antiga, o prédio do teatro espá à esquerda em primeiro plano


Essas peças foram um grande sucesso em Pirenópolis, e a partir delas que Sebastião decidiu que a cidade merecia um prédio de teatro. Jarbas e José Jayme nos contam que: “O edifício do teatro foi construído pelo Major Sebastião Pompeu de Pina , sob a direção do hábil carpinteiro Antônio Peixoto (Manezinho Peixoto), em terreno adquirido, em 6/6/1899, por quinhentos mil reis (500$000) de Sebastião José de Siqueira e iniciada a construção no mesmo ano.” (5)

A ponte construída por Sebastião, quando foi intendente de Pirenópolis

Interessante também o relato sobre a segunda apresentação de As Pastorinhas, ante o fracasso da primeira, que não teve a participação de Sebastião: "Naquele ano de 1923, Sebastião Pompêo, como era de seu gosto, queria levar mais de uma peça e, faltando opção, chamou seu filho, Dito Pompeu, e lhe disse: 'Vamos tentar levar aquela revista do telegrafista?!'. Alonso, desanimado, advertia Sebastião Pompêo quanto aos obstáculos. Este porém incumbiu-se da ir às casas de família e se responsabilizar pelas moças. Tamanho era o seu conceito na sociedade pirenopolina que, em pouco tempo, estavam os cordões formados".(6)

Por conta de entreveros políticos, esse teatro deu muita dor de cabeça ao seu idealizador. É o que Jarbas Jayme nos conta: “Se não me falha a memória, por volta dos anos de 1916 a 1918, a intendência municipal, por motivo decorrente de auxílio que, havia anos, concedera para a construção do citado edifício, pretendeu anexá-lo ao patrimônio do município, propondo, contra o respectivo proprietário, ação judicial. Essa porfiada luta forense teve larga repercussão em todo o Estado, e o Superior Tribunal de Justiça, sempre inteligente e justo em suas decisões, houve por bem reconhecer que a razão e o direito estavam com Sebastião Pompeu de Pina.” (7)

Depois que saiu da Família Pina, o Teatro de Pirenópolis virou cinema,  serraria, bar, armarinho etc. Ali morreu Irnaldo Jaime, no boteco do Zé Capitê, assassinado em 2.7.1976. (8) Segundo Adelmo de Carvalho: “Em 1980, a prefeitura, na administração de Altamir Mendonça, adquiriu o prédio do teatro, que estava prestes a virar ruínas. Em convênio com o governo de Goiás, o prédio foi restaurado e voltou à sua função original. A partir dessa época, passou para a administração estadual.” (9) Deteriorado com o tempo, foi novamente restaurado por iniciativa da Sociedade dos Amigos de Pirenópolis (SOAP), ocasião em que Emílio de Carvalho era presidente da entidade. (10) Recentemente, na administração do prefeito Nivaldo Melo, voltou o teatro a ser administrado pela municipalidade e hoje é o principal local para apresentações artísticas e reuniões na cidade.

Interior do prédio do teatro

Sebastião casou em 3.9.1887 com Maria Cristina d’Abadia Mendonça, filha do coronel João Floriano de Mendonça e de Eufêmia Pereira da Veira, irmã de Rosaura d’Abadia Mendonça (Lalá), que casou com Joaquim Propício de Pina, irmão caçula de Sebastião. Do casamento tiveram treze filhos, a saber: Gelon Pompêo de Pina, Ludovina de Pina (Safia), João Luiz Pompêo de Pina (Zizito), Eristéia de Pina, Sebastião Pompêo de Pina Júnior (Taozico Pompêo), Maria Armênia de Pina, Eugênia de Pina (Eufeminha), Benedito Pompêo de Pina, Antônio Pompêo de Pina, Joaquim Pompêo de Pina, Aloísio Pompêo de Pina, Braz Wilson Pompêo de Pina, Ana Lélia de Pina e Ivone de Pina. (11)


O talento de Sebastião Pompêo de Pina passou a muitos de seus descendentes e vou mencionar apenas alguns:

1 Taozico e Dito eram grandes atores, coreógrafos e encenadores. O  primeiro ainda se destacava como dramaturgo, violinista, compositor e poeta.

Taozico Pompêo, talentoso filho de Sebastião

2 Armênia se dedicou a atividades artísticas. Era cantora soprano do coro da Matriz de Pirenópolis à época de seu tio Joaquim Propício de Pina. Ensaiava com os atores a parte musical das peças teatrais que seu irmão Braz Wilson Pompêo de Pina apresentava. Ensinava a juventude as danças tradicionais que aprendeu. Tocava piano e violão. Seu conhecimento musical era tão grande que inspirou o sobrinho, Braz de Pina Filho, a escrever e publicar o livro O Cancioneiro de Armênia. Destacam-se duas talentosas filhas suas: Elfrida tocava piano e foi professora; Nathália se dedica ainda hoje a diversas atividades culturais.

Nathália de Siqueira é neta de Sebastião

3 Joaquim era escultor muito hábil em madeira, com especialização em casca de pau, pioneiro na introdução dessa técnica, e o tema predileto de seu trabalho eram os casarões pirenopolinos e as procissões. Foi também pintor.

Joaquim Pompêo de Pina, filho de Sebastião


4 Wilson Pompêo também trabalhava com teatro. Seus bailados eram famosos pelo figurino e impecável coreografia das belas dançarinas. Por muitos anos foi ele responsável pela apresentação da peça As Pastorinhas. Pompeu, filho de Wilson, foi um lendário ativista cultural em Pirenópolis. Braz, filho de Wilson, foi músico, maestro, pesquisador e escritor de renome. Da nova geração de netos de Wilson, mencionamos: Alexandre, filho de Wilno, que é maestro, músico, arranjador, ator e cantor; os filhos do Pompeu, que atuam nas Cavalhadas, Pastorinhas, Congo etc.; as filhas de Sone, que também atuam no teatro, com destaque para Débora si Sá, que é cantora profissional.

Cantora Débora di Sá, bisneta de Sebastião

6 Aloísio, filho do Sebastião, deixou igualmente grande descendência de talento. Sérgio, o pai, também conhecido como Cafu, é músico tarimbado no saxofone e ainda compositor. Sérgio, o filho, é artista plástico, ator e cantor. Aloísio Filho tinha a filha Cristiane, professora de violão e cantora; e tem Verlaine, professora de piano; Ricardo, filho de Cristiane, é baterista. O dr. Rafael, Promotor de Justiça, filho de Orieta e neto de Aloísio, toca violão e cavaquinho e, no final dos anos 1990, criou um grupo de chorinho, além de ser afinado cantor.

Sérgio Pompêo de Pina Jr. é artista plástico

7 Da família de Zizito, destacam-se seu filho Duílio, que por muitos anos cantou no Coro Nossa Senhora do Rosário com sua voz grave e afinada; Dr. Rodrigo, Delegado de Polícia, neto de Nonona, que era filha de Zizito, toca violão e canta bem. Tem ainda a Célia, que é filha de Taozico, herdou o Museu das Cavalhadas da mãe, Maria Eunice, e hoje é referência cultural em Pirenópolis.

Célia de Pina matém o Museu das Cavalhadas


No prédio do teatro que hoje leva seu nome, Sebastião encenou: “Aspásia na Síria”, “Atarxerxir”, “Demofonte”, “Adriano”, “D. Cezar de Bazan”, “Inez de Castro”, “Morgadinha de Valflor”, “O homem da máscara negra”, “O cavaleiro de Acalcerquibir”, “Luiz de Camões”, “Pedro Sem”, “Gonzaga”, “Nódoas de Sangue”, “Lágrimas de Maria”, “As duas Órfãs”, “Graça de Deus”, “A Honra de um Taverneiro”, “Gaspar, o Serralheiro”, “Guerras do Alecrim e Mangerona”, “Obras do Porto”, “O Primo da Califórnia”, “Fantasma Branco”, “Torre em Concurso”, e “O Dote”. (12)

O prédio do teatro construído por iniciativa de Sebastião

Já adoentado, no ano de 1924, portanto três anos antes de sua morte, Sebastião fez sua última participação no palco, como ator principal da peça “Honra e Glória”.

Faleceu Sebastião Pompêo de Pina em 3.2.1927, em sua cidade natal. Sobre sua morte, eu me lembro que na noite de fundação da APLAM, no hotel Quinta Santa Bárbara, 16 de abril de 1994, o professor José Sisenando Jayme se lembrou que, quando criança, ia à casa de Sebastião para comprar leite. Disse que, no final da vida, ele estava pálido e com a cor de mármore velho. Nesse momento, dr. Tasso Mendonça diagnosticou: câncer.

No casarão de portas e janelas verdes morou Sebastião

É Patrono da Cadeira XI da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (APLAM), que teve como Membro Efetivo Fundador seu neto Pompeu Christovan de Pina.

Citações:
1 JAYME, Jarbas. Famílias Pirenopolinas, Vol I, pp. 252/264.
2 JAYME, Obra citada, pp. 257/8.
3 PINA JÚNIOR, Sebastião Pompêo de. Comédias, p. 21.
4 PINA JÚNIOR, Obra citada, p. 21.
5 JAYME, Jarbas. JAYME, José Sisenando. Pirenópolis – Casa dos Homens – Volume II, p. 213.
6 CURADO, Adriano César. Biografia do Mestre Propício, p. 9.
7 JAYME, Jarbas. Esboço Histórico de Pirenópolis, Volume I, p. 153.
8 CURADO, Adriano César. Os Carapinas dos Pireneus, p. 111.
9 CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis Coletanea 1727-2000 Historia Turismo e Curiosidades, p.  53.
10 CURADO, Os Carapinas dos Pireneus, p.47
11 JAYME, Jarbas. Famílias Pirenopolinas, Vol I, pp. 252/264.
11 PINA JÚNIOR, Obra citada, p. 21.


Bibliografia:
CAVALHO, Adelmo de. Pirenópolis Coletânea: 1727 - 2000 História Turismo e Curiosidades. Goiânia. Ed Kelps, 2001.
CURADO, Adriano César. Biografia do Mestre Propício. Pirenópolis: 1993. Mimeogr.
CURADO, ____. Os Carapinas dos Pireneus. Goiânia: Kelpos, 2014.
CURADO, Glória Grace. Pirenópolis: Uma Cidade para o Turismo. Goiânia: Oriente, 1980.
JAIME, Irnaldo. Furacão Histórico. Anápolis: Ed. Cristã Evangélica, 1970.
JAYME, Jarbas. JAYME, José Sisenando. Pirenópolis – Casa dos Homens – Volume II. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 2003.
JAYME, Jarbas. Esboço Histórico de Pirenópolis, Tomos I e II. Goiânia: UFG, 1971.
JAYME ___. Famílias Pirenopolinas (ensaios genealógicos), Tomo I, Pirenópolis: Edição do Autor, 1973.
JAYME, José Sisenando. Pirenópolis Humorismo e Folclore. Edição do Autor: 1983.
MENDONÇA, Belkiss S. Carneiro de. A Música em Goiás. Goiânia: Editora UFG, 2ª ed. 1981.
PINA FILHO, Braz Wilson Pompeu de. O Cancioneiro de Armênina. Goiânia: Grafopel Gráfica e Editora, 2004.
PINA JÚNIOR, Sebastião Pompêo de. Comédias. Goiânia: Oriente, 1979.

Agradecimentos: a Sérgio Pompêo de Pina Júnior, Nathália de Siqueira e Wilno Pompêo de Pina pelas informações prestadas.

Adriano Curado

2 comentários:

  1. Nossa! Parabéns pela biografia! O homem deixou um prole numerosa e profícua, semeando o gosto às artes, que hoje é característica marcante do povo de Pirenópolis. Muito fértil.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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