Nos últimos dias recebi uma quantidade impressionante de mensagens eletrônicas cobrando de mim uma posição sobre o futuro condomínio de 192 apartamentos na vizinhança da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Pirenópolis, Goiás.
Primeiramente, fiquei muito surpreso com a insistência de meus leitores porque não imaginei que minha opinião pudesse ter uma relevância tão grande.
Em segundo plano, quero lembrar que vou me manifestar de forma pessoal, ou seja, sem qualquer vínculo com a Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (APLAM), da qual sou presidente. Esta advertência é para não causar confusão em certas pessoas que podem achar de entender que a instituição tomou partido na questão e isso só seria possível com a anuência dos acadêmicos.
Sobre o empreendimento gigantesco em plano centro histórico de Pirenópolis, eu me posiciono absolutamente CONTRA. E não poderia ser diferente. Só é a favor de algo assim quem tem interesse financeiro e olha para a cidade apenas por esse prisma. Do contrário, tem mesmo que ser contrário a um absurdo de tamanho porte.
Conheci através de uma palestra na cidade de Rio Quente, Goiás, esse sistema de hospedagem denominado "fração imobiliária", ou time sharing, share, que quer dizer por tempo compartilhado ou partilhado. É mais ou menos assim: cada apartamento tem vários proprietários e cada um deles detém um período para usá-lo durante o ano, seja pessoalmente ou através de aluguel. Exemplo: eu e mais onze sócios compramos um apartamento desses, então tenho um mês do imóvel à minha disposição durante o ano, e é óbvio que vou alugá-lo para tirar meu investimento.
Falemos dos motivos de minha oposição.
Pela primeira vez este ano, Pirenópolis teve falta d'água. Vários bairros passaram por rodízio, e isso porque as chuvas estão cada vez mais escassas e a empresa de saneamento não investe o suficiente para prevenir a escassez. Fato é que, com um empreendimento desse porte, o aumento do consumo de água trará um desastre para a cidade. A alegação de que usarão poços artesianos não convence porque terão que tratar a água, não podem consumi-la assim que extraí-la e eu duvido que construirão toda uma estação para fazer isso. Depois, se retiram água demais do lençol freático, ele acaba por secar. Exemplos há por aí.
As quedas de energia elétrica são folclóricas na cidade. Basta chegar o fim de ano ou o Carnaval, por exemplo, para as ruas ficarem às escuras. A construtora rebate esse argumento dizendo que terá geradores de energia próprios. Considerando o custo elevadíssimo do investimento e de sua manutenção, não acredito nem um pouco nessa alternativa, No final, é da energia comum que acenderão suas lâmpadas.
O trânsito é também outro empecilho aos quase duzentos apartamentos. Por onde tanta gente circulará? As ruas estreitas da pequena cidade não comportam esse fluxo. Há uma argumentação dos que defendem o projeto de que haverá vias de acesso por fora do centro histórico e isso não prejudicará o trânsito. Para rebater isso eu formulo uma pergunta: quem impedirá qualquer usuário desses apartamentos de transitar no centro histórico? Qualquer pessoa é livre para ir e vir por onde bem entender, então não há garantias de que, obrigatoriamente, o fluxo do trânsito extra gerado vai ser canalizado para "vias alternativas".
Por fim, quero ressaltar que, caso esses apartamentos compartilhados se tornem realidade, será um desastre para as pousadas da cidade, pois é muito mais barato alugar um imóvel desses, onde o inquilino tem meios de preparar sua própria alimentação. Também a histórica Igreja do Bonfim estará em risco pela proximidade assustadora dos prédios que possivelmente produzirão ruídos e poluição.
Por fim, quero ressaltar que, caso esses apartamentos compartilhados se tornem realidade, será um desastre para as pousadas da cidade, pois é muito mais barato alugar um imóvel desses, onde o inquilino tem meios de preparar sua própria alimentação. Também a histórica Igreja do Bonfim estará em risco pela proximidade assustadora dos prédios que possivelmente produzirão ruídos e poluição.
O projeto foi aprovado tanto pela Prefeitura Municipal de Pirenópolis quanto pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) porque tecnicamente se adéqua às exigências legais, mas basta um mínimo de ponderação para concluirmos que será desastroso para a cidade.
Esta é a minha opinião sobre o assunto.
Adriano Curado
O assunto já foi publicado pela Folha de São Paulo e duas vezes no Correio Braziliense.
Parabéns primo....é isso ai.Vamos ficar alertas. E o MP também deverá se atentar para isso.
ResponderExcluirCaro Adriano Curado,
ResponderExcluirO objetivo deverá ser sempre a originalidade. Querem-se acabar com a originalidade! É simplesmente lindo ver uma clássica Igreja bem restaurada e toda original é a minha preferida!!
Você já viu alguma obra de arte precisar de adaptações ou modernidade?
Uma clássica deve permanecer o mais original possível.
A linda Pirenópolis deveria continuar como está. Não a descaracterização, porque o bom dessa cidade é exatamente