terça-feira, 18 de outubro de 2011

A casa pirenopolina ( II )


     A casa é mais que o abrigo do indivíduo. É o lugar onde ele convive com seus parentes e amigos, é seu recesso para meditação, lazer, recanto para formação e manutenção de uma família. O jornalista Luiz de Aquino publicou uma verdade no jornal Diário da Manhã do dia 16/10/2011: “Bem, tempo houve em que a arquitetura, a engenharia das casas, obedecia a uma padrão imposto pelos materiais disponíveis: madeira, pedra, folhas. Hoje, a indústria da construção civil nivela o mundo a uma paisagem habitacional comum, igual. Tal como as roupas, que hoje fazem com que, respeitadas as circunstâncias do tempo, as pessoas se vistam igual em quase todos os lugares do planeta”.

     Em relação a Pirenópolis, a arquitetura das casas deve ser vista com cuidado e sem pressa, considerando o fator histórico em que estão inseridas. Nascida em um garimpo na primeira metade do século XVIII, batizada inicialmente Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, Pirenópolis conserva, ao lado da Cidade de Goiás, o maior e mais formidável conjunto arquitetônico do Estado de Goiás. Seus casarões, templos e prédios públicos dos séculos XVIII, XIX e XX, pela originalidade e outros critérios, foram tombados pelo Governo Federal em 22.11.1989, reunidos sob o termo Conjunto Arquitetônico, Urbanístico, Paisagístico e Histórico da Cidade de Pirenópolis.

      Na portaria nº 02, de 1º de junho de 1995, que regulamentou o ato do tombamento, assim se expressou a 14ª Coordenação Regional do IPHAN:

“O Conjunto Arquitetônico, Urbanístico, Paisagístico e Histórico da Cidade de Pirenópolis por seu excepcional valor cultural, é monumento integrante do Patrimônio Cultural Brasileiro, na forma e para fins do Decreto-Lei nº 25/37.
“É dever concorrente do Poder Público nas instâncias: federal, estadual e municipal, zelar pela integridade do referido Conjunto, assim como de sua vizinhança”.

     Isso que dizer que, quando alguém deseja intervir num prédio histórico, primeiro tem de formalizar um pedido de autorização do órgão competente e este, dentro dos critérios técnicos devidos, orientar a reforma ou restauração. Recentemente, no entanto, muitas intervenções vêm sendo feitas nos casarões pirenopolinos com técnicas bastante duvidosas – troca desnecessária de adobe por tijolo comum (furado), retirada dos baldrames, troca do assoalho de tábuas por cerâmicas e da estrutura de madeira por vigas de metal.

      Ora, daqui a alguns anos, quem quiser estudar a casa pirenopolina levará um grande susto, pois vai encontrá-la tal qual os apartamentos das grandes cidades, sem nenhuma característica de sua construção, nem a presença dos materiais empregados naqueles tempos. Isso é restauração? É zelar pela integridade do conjunto arquitetônico? É justo legarmos aos nossos filhos uma cidade-cenário?

Adriano Curado

12 comentários:

  1. Sua postagem de hoje confirma que a tese que defende está corretíssima. De fato, dentro da legislação do tombamento, preservar apenas a fachada das casas não é conservação, no sentido exato da lei.

    O que ocorre em Pirenópolis, na verdade, já se espalha pelos prédios históricos de todo o Brasil. A devastação anda a passos largos e bem diante dos nossos olhos. O ato do tombamento não é garantia de preservação do bem tombado, mas apenas o passo inicial para resguardá-lo contra ingerências futuras em sua estrutura. Em S. Luiz e Salvador, cidades que visitei há pouco, presenciei casarões caindo os pedaços, como vi exemplar restauração e, como você aborda aqui, há também por lá “cidade-cenário”. Na Cidade de Goiás, que é Patrimônio Histórico da Humanidade, depois daquela terrível enchente, restauraram os casarões com tijolo comum, enquanto poderiam perfeitamente tê-lo feito de adobe.

    Você está com a razão em sua postagem, quando prevê que Pirenópolis se tornará apenas “cenário”, deixando de existir da porta para dentro. Isso quer dizer que vão demolir a cidade toda e deixar uma réplica para as futuras gerações. Quem tirar uma foto da cidade, por exemplo, também estará sendo enganado, pois levará para casa uma falsificação. E já pensou quando essa história vazar e a cidade começar a perder turista?!

    Ainda há tempo para reverter a situação, mas as autoridades responsáveis têm que agir logo.

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  2. Catiene Maria Machado18 de outubro de 2011 às 16:52

    Eu não entendi muito bem o assunto, mas acho que tem que tirar as tábuas velhas do chão pra botar piso novo. Fica muito bonito e não dá cupim e não sobe barata na perna da gente. Mas só a tábua do chão, o resto pode ficar direitinho no lugar.

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  3. Que maravilha!
    Esse espaço é um lugar encantado...
    Parabéns, amigo!Beijos!

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  4. Pedro Paulo de Albuquerquer Saraiva18 de outubro de 2011 às 22:34

    Eu já acho que não tem salvação, destruíram a cidade quase toda e o que resta é insignificante para, por exemplo, pleitearmos o título de Patrimônio da Humanidade, qual a Cidade de Goiás. Uma pena. Vale a sua intenção de fazer algo, mas é tarde demais.

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  5. Pâmella Gonçalves Gomes19 de outubro de 2011 às 12:34

    Eu discordo que seja tarde para fazer algo pela cidade. Nunca é tarde. Enquanto existir uma parede de adobe, ainda haverá tempo. Continue com seus texto, escritor, eles nos revelam a existência de uma verdade que tem de ser mostrada.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. As intervenções nos prédios históricos estão erradas, sim. Na verdade, estamos num país de faz-de-conta. Tudo aqui é simbólico e para inglês ver. Isso acontece com todos os poderes do Estado e também na esfera civil. De qualquer forma, parabéns pela postagem e pela bandeira que levanta.

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  8. Marina Cardoso de Oliveira19 de outubro de 2011 às 18:23

    Não adiante mexer nisso, eles têm a proteção dos órgãos que deveriam fiscalizar.

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  9. Tem mais é que derrubar essas casas veia e fazer um shopping pra juventude!

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  10. Senhor Jadilson, não tem que temolir nenhum casarão histórico. Se você quiser, pode fazer seu shopping center noutro lugar, fora do centro tombado de Pirenópolis. Que mania de destruição!

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  11. Paulo Serafim dos Anjos27 de outubro de 2011 às 13:59

    Escritor, estão derrubando a cidade toda e bem debaixo dos nossos olhos. Aqui na rua do Fuzil já meteram abaixo as casinhas antigas do negros, baixas e pequenas, para construir no lugar isso que vc descreve - com tijolo furado, barra de ferro e cerâmica no chão. Faça uma matéria sobre isso também, porque é uma judiação o que tão fazendo com Pirenópolis e ninguém faz nada.

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  12. Estou gostando de ler seus textos!

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