quinta-feira, 14 de maio de 2009

Festa do Divino 2


     Farei hoje um breve passeio pela história, neste segundo texto sobre as comemorações de Pentecostes em Pirenópolis. Antes de adentrarmos aos festejos propriamente ditos, é preciso recriar a vida na vila de Meia Ponte, naquela primeira metade do século 19, e para isso nos serviremos dos conhecimentos deixados por três viajantes que por lá passaram – Saint-Hilaire, Emanuel Pohl e D'Allincourt. Contam eles que Meia Ponte era o segundo maior núcleo urbano da Província de Goiás, só perdia para a capital Vila Boa, com grande vida social e urbana, além de diversos pontos de efervescência cultural, geralmente dentro das festas religiosas. Já recuperada da decadência do ouro, com um bom comércio favorecido pela posição estratégica, Meia Ponte crescia também com a pecuária e a agricultura.

     Por conta de sua origem bem rural em contraste com a herança portuguesa e as lembranças ainda recentes do garimpo, o meia-pontense criou uma sociedade bem peculiar, fincada em bases paternalista e escravocrata, com grande predominância dos que detinham patentes militares ou eram ligados à Igreja Católica – note que os primeiros imperadores ou eram soldados ou padres.

     É exatamente nesse cenário que surgem as comemorações de Pentecostes no arraial de Meia Ponte. Em sua obra Esboço Histórico de Pirenópolis, Jarbas Jayme conta que o mais distante imperador de que teve notícias foi o coronel Joaquim da Costa Teixeira, cuja festa ocorreu em 30.05.1819, mas não descarta que tenham havido outras mais antigas.

     Por falta de documentação e inexistência de depoimentos de gente que viveu naquela época, não sabemos como foram essas primeiras festas. O certo é que somente em 1826 (14.05), quando foi sorteado imperador o padre Manuel Amâncio da Luz, ocorreram as primeiras Cavalhadas, além da confecção da bela coroa e do báculo, ambos de prata, doados ao patrimônio da igreja Matriz, e que existem até hoje. Naquele tempo, criou-se um hábito que se perpetuaria por mais de século: a distribuição em todas as casas, no domingo da festa, de um prato com pãezinhos do Divino, verônicas e alfenis.

Bibliografia:
D'ALLINCOURT, Luiz. Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
POHL, J. Emmanuel. Viagem ao interior do Brasil. São Paulo : EDUSP, 1975.
SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás. São Paulo: EDUSP, 1975.


                       Adriano César Curado

Um comentário:

  1. Interessante que uma sociedade rural e que vinha duma cultura eminentemente do ouro, onde se tira tudo da terra e se vai embora, essa mesmo sociedade resolve promover uma festa do tamanha da do Divino.

    Arlindo Soares

    soares47@bol.com.br

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