sexta-feira, 10 de abril de 2020

A Sexta-feira Santa

Quadro "Procissão N. S. Morto", de Pérsio Forzani, 2004

A Sexta-feira da Paixão (ou Sexta-feira Santa) é uma data religiosa católica que relembra a crucificação de Jesus Cristo e sua morte no calvário. A data é sempre na sexta-feira que antecede o Domingo de Páscoa e é feriado nacional. Esse é o primeiro dia do Tríduo Pascal no calendário do catolicismo, que se inicia na noite da celebração da Missa da Ceia do Senhor.

Em Pirenópolis, as celebrações da Sexta-feira Santa ocorrem desde os primórdios do século XVIII, quando aqui se fixou um movimentado e rico garimpo de ouro. Por esse tempo, certamente, já havia as cerimônias da Semana Santa, pois no nascente povoado se fazia presente a força da religião católica.

É na Sexta-feira da Paixão que ocorre a emocionante, bela e triste Procissão do Senhor Morto. Um crucifixo imenso abre caminho pelas velhas ruas de Meia Ponte, como há séculos se faz, enquanto que a cada lado na beirada das calçadas segue a infinita fila de membros da Irmandade do Santíssimo Sacramento, opas vermelhas, velas em longos castiçais, e atrás seguem os fiéis em silêncio respeitoso.

Em outros tempos, sempre foi tradição a escolha dos chefes de família para carregar o andor principal, num reconhecimento social aos patriarcas, pois ali está estendida a imagem do Crucificado em tamanho natural, entremeio flores multicoloridas e ramos, que causa comoção por onde passa. Quatro homens carregam esse andor no ombro em passos lentos e vez por outra param para que Santa Verônica cante seu hino de lamento.

O som da matraca ecoa pelas ruas Direita e Nova, além do largo, para retirar lá de dentro dos casarões aquele suspiro lamentoso de recordação dos que já não estão mais entre nós. Depois o sacerdote puxa com voz sentida e cadenciada mais um mistério do rosário que há pouco começou a rezar e o povo responde com voz uníssona. Mais atrás, N. S. das Dores vem com seu semblante de extrema dor, toda vestida de roxo, o coração entremeio às mãos, e seu andor é carregado, também no ombro, por quatro mulheres.

Então um silêncio desce sobre o cortejo e a banda de música principia a interpretar velhas marchas fúnebres, e a partir daí, quem se mantinha firme e duro não consegue mais segurar as lágrimas e a emoção toma conta de tudo. Não há também como não se comover com as belíssimas vozes do Coral N. S. do Rosário, seus membros orientados nas partituras pelo brilho cambaleante das chamas das velas.

E lá se vai o Senhor Morto pelas ruas tortuosas da história…

Adriano Curado
 



Foto: Site da Irmandade do Santíssimo




3 comentários:

  1. Belo e suscinto registro, caríssimo amigo e confrade Adriano!A religiosidade católica esteve, sim, sempre presente nos movimentos da História desde os primórdios de nossa Pátria, e enfaticamente nos tempos da ocupaçao lusa e a colinização, com as coletas animais e vegetais, as "entradas" e "bandeiras", com a mineração e o lamentável extermínio dos índios, prática que, lamentavelmente, volta a ocorrer sob proteção governamental. É possível que esta Semana Santa, em meio à crise da pandemia do covid-19, dê um basta na barbárie que ressurge na Amazônia.

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  2. Sóbrio e excepcional registro de nossa história, como é sempre do seu feitio. Parabéns, dr. Adriano Curado. Morina Moraes

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  3. As nossas tradições religiosas têm que ser preservadas contra as modernidades dos dias atuais. Helena Fagundes

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