foto Lailson Damasio |
Christóvam Pompêo de Pina é um pirenopolino que faz falta à velha cidade. Sinto sua ausência nas procissões mandando o povo entrar na fila e ficar calado. E o interessante é que todo mundo obedecia.
Eu era criança e andava no cortejo do Senhor Morto de mãos dadas com meu avô José. Ele de opa, segurando aquele castiçal imenso com uma vela na ponta. Eu me sentia orgulhoso porque estava no meio da Irmandade do Santíssimo. Sonhava ser irmão também, e fui, até padre Joel me expulsar... mas isso é outra história.
Fato é que, andava ali segurando nas mãos do meu avô, olhos fixos na imagem do Senhor Morto, quando lá vinha Pompeu com seu paletó desabotoado e opa esvoaçante. Gritava que quem não fosse da Irmandade tinha que ir para a calçada. Eu ficava aflito, com coração aos saltos e apertava a mão do meu avó, que olhava para mim com tranquilidade. Pompeu tirava entremeio aos irmãos quem não vestia a linda opa incandescente. Mas ao passar por mim, alisou meu cabelo e foi ralhar lá na frente. Muitos anos depois, quando em plena segunda-feira da Festa do Divino ele me pediu para socorrê-lo como advogado numa audiência na Justiça Trabalhista, fiz esse favor de bom grado porque ele foi gentil comigo naquela procissão.
Esta pintura de Tonico do Padre (Antônio da Costa Nascimento), datada de 1885, mostra o garimpo do Abade em plena produção. A obra também pertence ao acervo do Museu da Família Pompêo |
Bom. Mas voltemos ao foco da postagem. Há outro mérito que deve ser tributado a Pompeu de Pina. Ele comprou da viúva do Major Silvino Odorico de Siqueira todo o acervo da Banda Euterpe, corporação musical que se extinguiu com a morte do maestro. E junto com as partituras vieram pinturas magníficas de Antônio da Costa Nascimento (Tonico do Padre), todas feitas no século XIX.
Um dia, eu passava pela Rua Nova quando, de repente, Pompeu apareceu na janela e me chamou. Eu sentei numa mesa e ele abriu diante dos meus olhos estasiados um lindíssimo álbum com as pinturas do grande Tonico do Padre. Extraordinário acervo muito bem preservado. Pompeu me disse que se ele não tivesse comprado a relíquia, ela teria certamente desaparecido.
Agora Pompeu se foi e eu me preocupo muito com seu acervo valiosíssimo. Seus filhos são bem ligados à cultura, é verdade, mas o museu está fechado, sem arejar, e isso pode comprometer obras sensíveis, como é o caso da pintura do grande meste. E então, vamos preservar o Museu da Família Pompêo?
Adriano Curado
Ainda espero ver esse museu aberto e funcionando perfeitamente novamente, como era com meu avô!
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