Chegava eu à
casa de minha mãe, já aguardado para um café com quitandas, quando
notei um menino com um estilingue na mão a olhar afoito para a copa
duma árvore. Pensei até em passar direto, pois mamãe me esperava
há certo tempo, mas como hoje em dia é raro ver um estilingue,
parei para saber do que se tratava. E ainda bem que o fiz, pois o
garoto tencionava alvejar uma rolinha que chocava seus ovos.
― Que
é isso?
― Vou
pegar a rola pra cozinhar.
― Mas
você não vê que ela pode até já ter filhotinhos?
― É
a lei da selva ― respondeu-me ele cinicamente.
Fiquei
irritado com sua ousadia e ao notar que não poderia demovê-lo da
ideia, disse-lhe:
― Pois
agora eu vou chamar a polícia e você vai conhecer a lei dos homens.
Dito
isso, ele escafedeu-se dali num segundo, virou o beco de Benjamim
Goulão e desapareceu. Indiferente a essa discussão boba, ao
trânsito de veículos e ao movimento dos pedestres, lá estava ela,
gorda rolinha que descansava no ninho e se enfeitava com as flores.
Encontrava-se na porta da família Nominato, lá na rua Direita, mas
as pessoas apressadas não conseguiam vê-la.
Fotografei a
ave no ninho e depois passei a acompanhar o desenrolar do choco, até
que seus filhotes saíram do ninho, bateram asas e se foram. Penso
agora que, se não tivesse atrapalhado as intenções ruins daquele
garoto, esse milagre da vida não teria existido.
Adriano
Curado
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