sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Irmãos de sangue


     Eu torcia o nariz para as campanhas do governo sobre doação de sangue. Achava que aquilo não era comigo, que se tratava de um procedimento dolorido e que eles vendiam o sangue da gente.

     Pensamos coisas assim até que acontece o inesperado em nossa casa.

     Doente, papai precisou ser internado numa UTI e começou a receber bolsas de sangue. Não demorou muito e a clínica ligou para combinar a reposição do estoque usado. E a conta não era pequena. Precisávamos juntar uma turma de 25 doadores. Eu doei pela primeira vez na vida e vi que não sentia dor alguma, era pura bobagem. Depois doaram os parentes mais próximos, mas ainda assim a conta não fechava, pois era sangue demais.

     A princípio a gente se assusta com um fato assim, mas depois descobre que existe uma magia chamada “solidariedade”. Iniciamos uma campanha e eu me surpreendi com a quantidade de voluntários que queriam ajudar minha família. Em Pirenópolis, foi tanta gente que tivemos de alugar um micro-ônibus para transportar todo mundo.

     Eu transportei quatro pessoas no meu carro e ouvi histórias que me emocionaram. Um dos rapazes, cujo nome nem cheguei a saber, me confidenciou que a mãe viera do Pará para visitá-lo em Anápolis e iria embora naquela manhã. Pediu-me a gentileza de não chegar após o meio-dia, pois ela retornaria à terra natal naquele horário. Voltamos às onze horas e ele ficou apenas uma hora a mais com a mãe. E olha que aquele moço nem me conhecia e talvez nunca mais nos vejamos.

     O pessoal que foi no micro-ônibus estava com um sorriso no rosto, feliz por poder ajudar minha família. Eu ouvia palavras encorajadoras sobre a melhora de papai. E não deixava de indagar em meu íntimo: por que tudo isso? Essa gente deixou o conforto do lar, alguns não foram trabalhar, com o único fim de ser solidária.

     De tudo isso temos que tirar lições, pois é para aprender que estamos neste mundo. A primeira delas é saber que sempre necessitamos do amparo alheio. Não importa a quantidade de dinheiro que se tenha e nem o prestígio que se goza, um dia todos nós precisaremos do próximo. A outra é tomar consciência de que há muita gente boa neste mundo, apesar de só nos chegarem notícias de bandidagem e maldades.

     Eu precisava compartilhar isso com vocês. É uma forma de dizer muito obrigado a todos, vocês são anjos de luz neste mundo complicado.

Adriano César Curado

2 comentários:

  1. É verdade, Adriano, todos nós precisamos dos nossos semelhantes. Isso tinha que ser enfiado goela abaixo dos egoístas que povoam este planeta. Linda sua postagem. Parabéns.

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  2. Boa noite, amigo.
    Discordando em parte do comentário acima, que diz: "Isso deveria ser enfiado goela abaixo dos egoístas..." Acredito que a solidariedade é algo que se deva praticar gratuidamente, não porque é bonito ou porque as outras pessoas vão nos achar heróis, é preciso entender que nós somos parte de um todo, de um amor universal criado pelo nosso Pai que é Deus. Não existe Eu e Você pra Deus, existe nós os Filhos Dele. Nascido do mesmo amor, com os mesmos sentimentos, apenas o mundo faz suas manobras tortas que damos o nome de livre arbítrio. Éramos pra sermos uma humanidade humana, mas temos o poder de sermos indiferentes a dor que não está na nossa carne ou nos nossos olhos. E por isso temos o coração misericordioso de Deus que nos perdoa, nos endireita e nos diz: Segue em frente. Assim nos oferece situações para nos revelar nesse amor maior chamado: solidariedade!

    Boa Sorte a Sua família, Adriano. E creia, sempre haverá solidariedade nesse mundo, o tempo todo!

    Abraços!

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