sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Leo Lynce

Sem nunca ter visitado Pirenópolis, que sempre me ficou a contra-mao nos meus passos incessantes por estes chãos infinitos de Goyaz, tenho-a, entretanto, gravada na imaginação, com as suas velhas igrejas e solares, com as águas cantantes do seu rio e com suas palmeiras suspirosas, como se tudo aquilo me fosse familiar.

Depois da velha capital, Pirenópolis é a nossa cidade mais rica de tradições.

É a lendária Meia-Ponte, edificada as margens do Rio-das-Almas, aonde aportou, em 1731, Manuel Rodrigues Tomar, remanescente das bandeiras anhanguerinas.

Foi lá que, ao alvorecer do século XIX, surgiu o primeiro jornal do Brasil Mediterrâneo – a “Matutina Meiapontense”, fundada pelo comendador Joaquim Alves de Oliveira, o goiano que mais alto elevou no seu tempo e cujas qualidades de inteligência e de caráter, a par da mais perfeita fidalguia de maneiras e acendrado patriotismo, o sábio Frances Saint Hilaire e outros, em publicações memoráveis, louvaram sem restrições.

Terra natal de Xavier Curado, general diplomata e gentleman do 1º. Imperador do cônego Luiz Gonzaga; do padre Nascimento; de Gonzaga Jaime e de tantos outros varões ilustres, Pirenópolis mantem ainda, com galhardia, no trato de seus filhos e na fisionomia da cidade, os seus antigos foros de nobreza.

O soneto abaixo, pelo motivo já explicado, apenas revela vagos traços da cidade, como eu a imagino e compreendo.






PIRENÓPOLIS


Bissecular cidade – monumento,

Que do Rio-das-Almas fica à beira.

Terra de Joaquim Alves de Oliveira

e dos padres Gonzaga e Nascimento.


Que mundo de emoções experimento

ao recordar-te, gleba hospitaleira

-berço da imprensa de Goyaz – primeira

luz acesa no nosso pensamento.


Em cada rua antiga, em cada igreja;

nos pátios e jardins de benfazeja

fronde, por onde o sol se filtra a custo;


No arqueado das portas e janelas,

- tu, velha Meia-Ponte, nos revelas

todo esplendor do teu passado augusto





Publicado no jornal O Popular em 12 de setembro de 1943, edição 482. O texto foi descoberto pela escritora Sinvaline Pinheiro, de Uruaçu, que o enviou ao poeta Luiz de Aquino e este remeteu a mim. Aos dois meu agradecimento.

3 comentários:

  1. Rapaz, mas que poema bonito é esse?! E como pode Leo Lynce compô-lo sem nunca ter ido a Pirenópolis? Gênio é gênio!

    Fernando Carvalho

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  2. será que depois de publicar o texto e o poema, Leo Lynce conheceu Pirenópolis? É uma dúvida que tenho. Samantra Lopes

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  3. Continuo lendo os arquivos antigos e tem muito de Pirenopolis, assim que puder vou enviando
    parabens pelo belo trabalho!

    sinvaline -uruaçu goias

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