Já notaram na quantidade de idosos de Pirenópolis? Parece que a longevidade é um atributo dos habitantes ao sopé do Frota. Acho que é porque, nesta linda cidade, desfruta-se duma vida simples e portanto longa.
Minha avó, por exemplo, já se avizinha dos noventa anos, lúcida, feliz, com uma invejável memória, capaz de reter as atenções por horas com seus causos interessantíssimos. Mora em Pirenópolis, onde nasceu e sempre viveu. É testemunha ocular dos desdobramentos históricos do século XX.
Seu casarão centenário na praça da Matriz é um lugar que guarda histórias sem fim, como as arrelias políticas, a visita de JK etc.
Ali, entre um causo e outro, serve-me ela um bolinho de chuva e um cafezinho torrado na hora, perfumado e inigualável.
A comidinha saborosa é feita no fogão a lenha, sem muita sofisticação, mas com farta dose de carinho. Na panela de barro, o feijão pipoca a noite toda e quando é servido vira um caldo encorpado e delicioso.
No forno são assados biscoitos, broas, quitandas, bolos. Espalha-se o braseiro sobre a pedra dentro do forno, depois tira tudo, varre com esmero para assear, coloca-se a quitanda e a boca é tampada. O tempo de assar tem que ser preciso, mas isso quem tem experiência sabe dizer.
A água friinha vem dum filtro mais velho que minha mãe e ainda em perfeito uso. Engaçado, até os utensílios domésticos duram mais em Pirenópolis!
A religiosidade é outro atributo do pirenopolino. Não é raro ver as bandeirinhas coloridas no alto dalgum mastro, no fundo dos quintais. Lá em casa o terço é de Santo Antônio, que deveria ser comemorado no dia 13 de junho, mas que, com a finalidade de reunir a família toda, vovó nunca reza no dia. Já teve ano de o terço sair lá por outubro.
A bandeira da foto foi pintada por dona Natércia de Siqueira, uma talentosa artista pirenopolina, de saudosa memória. Era ela quem bordava as roupas de cavaleiro de vovô, que foi rei mouro por muitos anos (e de quem já falei neste blog), sem nada cobrar, apenas por devoção ao Espírito Santo e como forma de contribuir para a festa.
Pelas janelas lá de casa, bem enfeitadas e com luminárias, vemos passar as procissões. Acho lindo demais o contraste das imagens com os telhados de telhas coloniais.
Falo aqui de religiosidade no sentido de manifestação cultural do povo. Isso obviamente nada tem com os ensinamentos desta ou daquela religião, nem diz respeito a dogmas e crendices. Cada qual com suas convicções!
by Adriano César Curado
A vida longo de que fala você é fruto justamente da boa rotina a que esta gente se entrega. Não é à toa que Pirenópolis se manteve intacta por tantas gerações. Cercada de morros, inacessível por estradas quase inexistentes, só restava mesmo ao nativo criar um estilo de vida peculiar, único, adaptado ao seu tempo. E é justamente esse estilo de vida que persiste até hoje. Não importa qual imagem de santo esteja estampada nas bandeirolas coloridas dos quintais e nem a devoção que se tem pelas procissões, o que importa, e muito, é conservar, através da boa tradição, o estilo de vida que é bem pirenopolino.
ResponderExcluirPedro do Porto
Cada vez que leio seus textos me dá uma saudade de Pirenópolis!
ResponderExcluirKássia Assis Lima
Você está corretíssimo ao pregar que as tradições de Piri nada têm com religiosidade. Devem realmente ser vistas como manifestação cultural do povo e não como pertencentes a este ou aquele credo ou dogma. Sua abordagem é precisa e merece meus cumprimentos.
ResponderExcluirPuxa vida Adriano, ao ler seu breve e bem exposto relato um saudosismo gostoso me acometeu a alma. Deus abençoe voce nato pirenolino, Deus abençoe nossa amada terra frutuosa de artistas e culturas mil. Jadson Aquino (O Jadim, filho do Jason barbeiro)
ResponderExcluirjadsonaquino@hotmail.com