domingo, 13 de novembro de 2022

Meia Ponte: entroncamento de estradas

 

Mapa traçado por Cunha Matos em 1826
                                               Mapa traçado por Cunha Matos em 1826

Bartolomeu Bueno da Silva, o filho, ao retornar em definitivo à terra dos índios goiases, fundou o Arraial de Santana (Cidade de Goiás) em 26/07/1727 por encontrar farto veio aurífero no Rio Vermelho. Daquela localidade, com a autoridade que lhe foi confiada pelo rei português e no intuito de cumprir a missão de novas descobertas do precioso metal, começou a enviar expedições para diversas localidades. Uma delas foi a chefiada por Urbano do Couto Menezes e financiada por Manoel Rodrigues Tomar, ambos lusitanos, que chegaram ao local onde hoje está a cidade de Pirenópolis em 07/10/1727 e, diante da abundância do ouro, foi ali fundado um pequeno núcleo populacional apelidado de Meia Ponte.

Embora naqueles primeiros tempos o garimpo tivesse rendido lucros elevados, estima-se que a produção não tenha durado mais que quatro décadas. De modo que, ainda no século XVIII, a garimpagem já estivesse em decadência total na região. E isso não se deu apenas em Meia Ponte. O declínio do ouro goiano foi mais rápido que, por exemplo, em Minas Gerais. E o resultado foi a decadência de muitas povoações, várias delas inclusive extintas porque abandonadas por seus habitantes. A população meia-pontense, então, migrou para a zona rural e a cidade meio que estagnou quanto ao seu crescimento habitacional. 

Mas há um diferencial que permitiu a Meia Ponte se destacar em relação a outros locais, inclusive a Cidade de Goiás: sua localização privilegiada. Sim. Isso mesmo. O local onde o arraial se localizava era o entroncamento de diversas estradas reais e isso permitiu que ali se formasse um entreposto comercial forte. Na época da colonização, todos os caminhos que chegavam ao Planalto Central passavam por Meia Ponte.

Falemos primeiramente do Caminho dos Paulistas, que foi aberto pelo Anhanguera filho. Ele partia de São Paulo de Piratininga e adentrava terras goianas pelo Triângulo Mineiro, de lá seguia para Santa Cruz, Bonfim (Silvânia) e Meia Ponte, onde encontrava a Picada da Bahia e a Estrada Real, para seguir rumo à capital Vila Boa.

A Estrada Real (ou Picada de Goiás) interligava Minas Gerais ao Rio de Janeiro e também às minas goianas. Aberta por Urbano do Couto Menezes, adentrava pelo Arraial de Santa Luzia (Luziânia), daí para Corumbá de Goiás, Meia Ponte e Vila Boa.

Já a Picada da Bahia, que ligava Goiás ao Nordeste, se iniciava no Recôncavo Baiano e penetrava terras goianas pelo Arraial de Couros (Formosa) e depois Meia Ponte e Vila Boa.

Por fim, havia a Estrada do Norte, que se iniciava em Meia Ponte, seguia por Vila Boa, passava pelas minas do Tocantins e chegava às capitanias do Grão Pará e Maranhão.

Portanto, quatro importantes estradas se encontravam em Meia Ponte. Por isso a região se tornou um entreposto comercial e se caracterizou por constante movimentação de gente e carga. E é interessante observar que, por muito tempo, alimentou-se a tese de que Goiás ficou isolado após o declínio da extração mineral, mas isso está atualmente refutado, principalmente após os estudos de Nasr Chaul.

A Estalagem de Joaquim Alves de Oliveira


As estradas que se dirigiam para o Norte/Nordeste saiam de Meia Ponte pelo caminho que ligava a Corumbá de Goiás, ou seja, onde hoje está o bairro Alto do Bonfim. As demais estradas entravam pelo Alto da Lapa, lugar onde Joaquim Alves de Oliveira construiu, no princípio do século XIX, um edifício destinado ao pernoite dos viajantes e que passou a ser denominado de Estalagem.

Adriano Curado



Obras consultadas:

CHAUL, Nasr Fayad. Caminhos de Goiás: da construção da decadência aos limites da modernidade. Goiânia: Editora UFG. 5ª edição, 2018.

ESTEVAM, Luís. O tempo da transformação: estrutura e dinâmica da formação econômica de Goiás. 2ª. ed., Goiânia: Ed. UCG, 2004.

MAGALHÃES, Luiz Ricardo; ELEUTÉRIO, Robson Eleutério. Estrada Geral do Sertão – na rota das nascentes. Brasília: Editora Terra Mater Brasilis, 2008.



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