Vamos fazer uma passeio diferente? Eu convido você, caríssimo leitor, a embarcar comigo nesta virtual máquina do tempo e juntos recuaremos quase 92 anos. Vamos juntos com o dr. Carlos Pereira de Magalhães, um advogado paulista que por aqui passou, conhecer como era Pirenópolis naquele tempo, saber mais de sua gente, dos costumes, da sociedade política, da mocidade etc.
     Seja bem vindo à bordo.
“Pirenópolis, 24 de novembro de 1919 – Estado de Goiás
      Chegando a esta cidade, avisou-me o major Siqueira que deveria aguardar a chegada do senhor Freimund. Que fora a Roncador. (…)
      O velho Cabo Pina, membro de uma rica família goiana, militar reformado e inspetor policial desta praça, levou-me à sua casa, no alto da Lapa, bairro populista. A seu lado, uma pequena chácara para alugar: a casa de telha, bem caiada, dois cômodos, pitorescamente situada entre bananeiras, aluguei-a por um ano, pelo preço de 25 mil réis. Nesse mesmo dia, transferi minha mudança para esta bucólica habitação. (…)
Estou passando dias agradáveis em companhia do velho Cabo, que assentou praça em 1870, e familiarizando-me com o povo, em cujas veias corre generoso o sangue indígena. O governo federal mantém neste alto um posto meteorológico e na cidade uma estação de Telégrafo Nacional.
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| Região da Serra dos Pireneus | 
      O círculo cavalcante atual: o homem do mando, doutor Olavo Baptista, distinto clínico; coronel Félix Jayme, seu adversário; senhor Luís Augusto Curado, o fiel da balança; José Lourenço, o mesmo que me negou na capital apresentação ao presidente, por não ter roupa de casimira, é o homem da ronha política.
Pica-pau, lá do sertão
Não é como o daqui não
O de lá bate no pau
O daqui bate, bate, no coração
      Estribilho de uma melancólica endecha de tempos idos. Essas meninas ostentam com graça e modéstia, à luz vacilante da fogueira, os insolentes relevos de uma sadia nubilidade. Brilham em seus cabelos pirilampos alfinetados e no colo airoso colares de pérolas, isto é, de ovos de caramujo grande. Dançam com elegância e decência sob a severa fiscalização do cortador Balduíno, chefe desse quarteirão e responsável pelo que acontecer. Graciosa juventude de espírito alegre e coletivo, unidade e glória de um povo – o goiano, filho de São Paulo.
| Casarão alugado pelo autor na Lapa | 
MAGALHÃES, Carlos Pereira de. Cartas de Goiás – No princípio do século XX. São Paulo: Editora De Letra em Letra. 2004, pgs. 143/146  
Adriano César Curado


Ah!, que maravilha esse passeio pelo tempo, numa época romântica em que Pirenópolis não passava duma vila perdida nestes planaltos! Será que você não tem lugar para mais uma pasageira?!
ResponderExcluirPostagem importantíssima essa sua, escritor, que nos mostra o cotidiano duma cidade que, evidentemente, nada tem em comum com a Pirenópolis de hoje.
ResponderExcluirO sertanista Carlos Pereira de Magalhães comprou e morou muitos anos da sua vida na Fazenda Abade, que ele cita maravilhado no texto acima. O livro Cartas de Goiás é muito mais amplo e narra suas aventuras por diversos lugares de Goiás. Mas o interessante é que, mesmo depois de percorrer o estado todo, foi em Pirenópolis que ele escolheu viver.
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