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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A tradição revivida sempre

Existe um ditado popular que diz: “aquilo que não se usa, atrofia”. Então penso que devemos reviver mais as tradições de nossa terra. Ouço sempre os pirenopolinos reclamarem que isso ou aquilo acabou, que não foi apresentado na ocasião tal. Mas poucos se dispõem a pôr a mão da nassa e trabalhar por soluções. Outro dia, uma senhora que é musicista, reclamou para mim (por que eu?!) que a cadência da Banda de Couro está mudada, que na sua infância tocava-se diferente. Tive vontade de perguntar o porquê de ela mesma não treinar os meninos que tocam na “bandinha”.

Essas preocupações de alguns são também minhas. Por ser nossa cidade um ponto turístico, constantemente convivemos com diferentes manifestações culturais alienígenas. Então temos que resguardar o que é nosso, sob pena de não termos no futuro o pouco que nos restou de autêntico.

Volto então ao ditado: “aquilo que não se usa, atrofia”. Se queremos que nosso folclore sobreviva aos vendavais destes tempos modernos, então temos que ressaltá-lo, dar a ele a importância devida. Vou exemplificar: por que só apresentamos a congada, a contradança, o congo etc., por ocasião da Festa do Divino? Podemos organizar eventos mensais com tocatas na porta da igreja com a Fênix e a Banda de Couro, com a meninada da contradança e seus malabarismos com fita etc. As missas solenes podem ser celebradas sem nenhum motivo especial, só para termos o prazer de ouvir o Coro Senhora do Rosário em ação e, obviamente, para estimular a permanência de sua atividade.

Tantas e tantas tradições podem ser revividas e fomentadas. Isso requer um projeto, é certo, pois essa gente tem que ser remunerada, mas tenho certeza de que não faltará verba para custear um sonho dessa grandeza.

A maioria das manifestações folclóricas pirenopolinas é apresentada na época da Festa do Divino. Então começa uma corrida para formar turmas que queiram participar disso ou daquilo. Quase não tivemos a Banda de Couro este ano por falta de compromisso de seus integrantes, queriam a certeza de receber pagamento. E não estão errados, pois se uns ganham, todos têm que ganhar. Dentro do projeto que quero levar adiante, as equipes já ficam formadas e recebem por atividade executada. Desta forma, quando chegar a festa, as apresentações não ficarão vinculadas à liberação de verba pública.

Essa ideia ainda está em amadurecimento. Aceito sugestões sobre o assunto.

Adriano Curado

terça-feira, 14 de maio de 2013

As danças na Festa do Divino

Tapuias na Festa do Divino

     Quem vê as apresentações do congo, da congada e da contradança atualmente, não imagina que nossa Festa do Divino já foi muito mais animada em matéria de danças.

Bastião de Chica (direita) como Tapuia

     Vou tomar como exemplo a festa de Manuel Inácio D’Abadia Aquino de Sá Filho, em 1979. O então Imperador Eli de Sá, como é mais conhecido, certamente por ser descendente do coronel Chico de Sá, um escravo alforriado, incentivou manifestações artísticas de origem africanas, como o lundu(1) a súcia(2) e o vilão(3), além das tradicionais congos, congadas e tapuias.


     Na festa de Eli, todos os dias tinha apresentações de danças típicas em sua casa. Mas ele promoveu também inéditas tardes esportivas, além de serenatas noturnas pelas ruas da cidade.


     Na década de 1970, diversos Imperadores promoveram grandes festivais de danças folclóricas na cidade, com ampla participação popular. Em 1980, o Imperador Geraldo do Espírito Santo Lopes (Geraldo de Sansa), além de manter as danças folclóricas dos antecessores, ainda inovou com catiras na casa dos juízes da novena.


     Nos anos seguintes, entretanto, acabaram essas ricas manifestações folclóricas e restaram apenas as tradicionais contradança, congos, congadas etc.

Adriano César Curado


(1) Lundu é uma dança brasileira criada a partir dos batuques dos escravos bantos, trazidos ao Brasil de Angola, e de ritmos portugueses.

(2) Súcia é uma dança de origem africana, caracterizada por forte percussão de tambores, além da participação de cuícas, onde homens e mulheres dançam em círculos.

(3) Vilão é uma dança de origem portuguesa mas adaptada pelos escravos, que repete movimentos de ataque e defesa, onde os dançarinos utilizam bastões de madeira rija e verde.


Fonte:

ARAÚJO, Alceu Maynard; JUNIOR, Arico. Cem Melodias Folclóricas – Documentário Musical Nordestino. São Paulo: Martins Editora, 2010.
SOUZA, Jusamara. Arranjos de músicas folclóricas. Coleção Músicas. Porto Alegre: Editora Meridional, 2009.

Programas da Festa do Divino de Pirenópolis dos anos de 1970/81, disponíveis para consulta no Museu das Cavalhadas, localizado na Rua Direita, Centro Histórico.

Site:


sábado, 16 de maio de 2009

Festa do Divino 4



     A Festa do Divino de Pirenópolis não seria a mesma sem duas manifestações culturais importantíssimas: a DANÇA e o TEATRO. Desde o século 19 que ali se apresentavam inúmeros espetáculos dessa natureza, em especial durante as comemorações de Pentecostes, quando então ficava ao livre arbítrio do imperador autorizar ou não a apresentação. Mas nem só durante as festas ocorreram encenações desse tipo, tanto que o primeiro prédio de teatro da cidade foi construído ainda em 1860, pelo comendador Manuel Barbo de Siqueira. 

     O segundo teatro foi erguido em 1899 por Sebastião Pompeu de Pina e ainda existe no largo da Matriz, embora completamente restaurado por iniciativa da Sociedade dos Amigos de Pirenópolis (SOAP). 

     Em 1919 o padre Santiago Uchôa levantou o prédio que seria o terceiro teatro local, que mais tarde recebeu o nome de Cine-Teatro Pireneus, na rua Direita, prédio que desabou, virou ruína e mais recentemente também foi restaurado pela SOAP. Todos esses prédios abrigaram muitas peças de dramaturgia e dança, servindo assim como uma espécie de ponto de encontro da população.

     No que se refere à peças teatrais, muitas foram apresentadas durante a Festa do Divino, a exemplo do drama Demofonte (maio de 1837, junho de 1878 e maio de 1969), o drama Aspásia (junho de 1837), o drama Fantasma Branco (junho de 1867 e maio de 1885), bem como Estátua de carne, O poder de ouro e Graças a Deus (em maio de 1874).

     No que diz respeito à dança, podemos ressaltar as danças folclóricas, os torneios de catira, a complicadíssima encenação da contradança com suas fitas multicoloridas trançadas, além das coreografias do congo e da congada.

     Num misto entre o teatro e a dança, a principal manifestação é a peça As pastorinhas, que pela sua importância cultural, merecerá um texto apartado.

Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971
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Adriano César Curado