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quinta-feira, 26 de abril de 2012

A terra de minha terra



     Eis a terra de meus pais, de meus avós, de todos aqueles que me precederam nesta longa caminhada espiritual. Sou um privilegiado por pertencer ao seleto grupo dos que conhecem Pirenópolis, sua gente, seu casario secular, suas ruas de infinitas histórias. 

     Nas madrugadas festivas, quando dobram os sinos em alegria incomparável, somos hipnotizados pela moçada da velha banda e seguimos sonolentos pelas alvoradas extravagantes. 

     Nas noites de quietude, quando a lua cria figuras sinuosas e traiçoeiras no pé-de-moleque, um violão convoca um cavaquinho, que intima uma flauta, que convida um seresteiro. 

     E quando a vida finalmente me tornar história, que o pó deste perecível corpo se funda ao adobe de algum muro ornado por multicoloridas e perfumadas flores do campo.

      Eis aqui a minha amada terra.


Adriano César Curado

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Nossa cultura nos basta





     Pirenópolis é uma terra abençoada porque tem um produto raríssimo: a espontaneidade folclórica. Cada pirenopolino está à disposição dos festejos que ocorrem na cidade – festa do Morro, da Capela, do Divino, Semana Santa etc. Tudo isso tem a participação popular com alegria e entusiasmo.

      E sabe por quê? Porque nossa cultura nos basta.

      Não precisamos importar novidades “de fora”, temos já o suficiente aqui. Inventar moda para quê? Sou muito mais assistir uma rodada de causos com os repentistas nativos, que ir ao teatro ver um comediante nacionalmente famoso. Prefiro a Banda Fênix pelas ruas da cidade, em festivas alvoradas, que concertos recheados com arranjos indigestos lá dos estrangeiros. Meus olhos brilham com a mesmice das Pastorinhas, mas não têm o mesmo fulgor nas peças teatrais de outras searas. Mil vezes os poemas puros e delicados de Marieta Amaral, que um escritor de renome internacional, mas que só vem à nossa terra por dinheiro – nosso dinheiro, ressalvo.

      Sim, sou bairrista. Amo a minha terra acima de qualquer outra. E para mim, não há lugar mais lindo no mundo que Pirenópolis. Não há povo mais inteligente que o pirenopolino. Não há banda mais afinada que a Fênix.

      Vamos preservar o que é nosso e exigir que os “de fora” não venham trazer aculturação. Eu valorizo aqueles que cuidam da cultura pirenopolina e abomino os que inventam moda, pois não sabem o veneno que injetam em Pirenópolis.

      Na comparação das imagens, a Igreja Matriz antiga e a atual resumem tudo que escrevi.

Adriano César Curado

Imagem: Rafael Urani

terça-feira, 17 de abril de 2012

A tradição e o tempo


      
      Pirenópolis é uma cidade privilegiada porque fincada em sólidas bases culturais. A Festa do Divino é Patrimônio Imaterial do Brasil pela espontaneidade de seu povo, pelo envolvimento da população, todo mundo unido na vontade de fazer a festa acontecer. As manifestações culturais pirenopolinas passam de pai para filho e assim seguem pelos séculos afora. Se esse vínculo hereditário nunca se romper, daqui a duzentos anos, por exemplo, quem visitar a cidade assistirá às Cavalhadas, presenciará as palhaçadas dos Mascarados e se encantará com as Pastorinhas.

Foto: mochileiro.tur.br

       Nossa cultura já é suficientemente rica e completa. Não precisamos agregar mais nada ao folclore pirenopolino. Se permanecer tudo exatamente como está, já ficou bom. A tradição e o tempo devem caminhar juntos, de mãos dadas e com o compromisso do eterno.


       Por tudo isso, é perigoso introduzir inovações como Cavalhódromo, o centurião que toca piston antes da entrada dos cavaleiros, a numeração dos Mascarados e a restrição do seu trânsito pela cidade, etc. Não precisamos desse tipo de novidade e nem o queremos.

       Vamos valorizar o que temos em casa. O sabor da nossa cozinha, a melodia dos guizos e polacos, a afinação das Pastorinhas, o encantamento da Festa do Divino, e por aí vai.  Por que trazer gente de fora para se apresentar em Pirenópolis? Será que aqui não tem artista suficientemente bom? Por que promover internacionalmente a cidade, em eventos modernos, se ela já é suficientemente conhecida pelo valor do que conserva?

Adriano César Curado






segunda-feira, 16 de abril de 2012

Desrespeito com o rio das Almas


     Segundo relato das pessoas mais velhas, o rio das Almas já foi muito mais volumoso no passado. Hoje, alguns o chamam de córrego, e é dolorido para um pirenopolino ouvir esse termo. Mas a pergunta é: nossa geração cuida direito do rio?

      Na sequência das três fotos abaixo, vemos um carroceiro que retira areia do leito do Almas, nas proximidades da Ramalhuda. Tem muita areia acumulada lá, é verdade, o problema é a quantidade de carroças que saem a todo momento carregadas. Dizem que a finalidade de todo esse material coletado é o uso em artesanato. Porém, seja lá qual for o destino na areia, isso é um desrespeito com nossas águas.

Adriano César Curado




sexta-feira, 13 de abril de 2012

terça-feira, 10 de abril de 2012

Pirenópolis (Poema)


Quando estou em Pirenópolis,
Na minha sala de jantar,
Olhando pelas janelas,
Vejo uma beleza sem par.

Voltar para minha cidade,
Da minha casa ver a serra,
O rio, a ponte, a igreja do Carmo,
Admirar a beleza da terra.

Um dia estava em Pirenópolis
Olhando a rua silenciosa,
Passaram pessoas dizendo:
Que cidade maravilhosa!

Se alguém me perguntar
O que mais quero da vida,
Responderei sem hesitar:
Minha terra querida.

Quando estou quieta, penso na vida,
Lembro-me da minha terra querida,
Dos lindos passeios pela cidade.
Sentia-me tão feliz que tenho saudade.

Estava um dia na janela
Calma e contente a observar,
Vi como a cidade é bela
Nas claras noites de luar.

Chove chuva miudinha,
Cai de leve no telhado,
Fico olhando, quietinha,
Da janela do meu sobrado.

Perguntaram-me certa vez
Como é a sua cidade?
É linda e majestosa,
Respondi com vaidade.

Andando pela tortuosa estrada
Da serra do Pico dos Pireneus,
Lá de cima fico feliz, encantada!
Com a beleza criada por Deus.

Quando vou à serra dos Pireneus
Fico admirando a natureza.
E elevo uma prece a Deus
Agradecendo tanta beleza!

Õ minha terra formosa!
Tu és o meu encanto.
És linda e majestosa,
Eu te quero tanto.

Como é bom a gente se lembrar
Da querida cidade da gente,
Onde todo mundo é parente
E tem muito que conversar.

Como me sinto feliz só de pensar.
Que para minha terra irei voltar.
Meu coração alegre fica a cantar,
Ó Pirenópolis, como hei de te amar!

Ó minha cidade querida,
Está hoje tão maltratada.
Por seus filhos, foi esquecida,
Mas por mim será muito amada.

A minha cidade querida,
Terra que me viu nascer,
Faria muito na vida,
Para a cidade renascer.

Voltar para minha cidade
Dar-me-ia um grande prazer,
Ir morar no meu sobrado
E sossegada viver.

Um dia estava em Pirenópolis
Olhando a rua quieta e parada,
Não via sequer um carro,
Nem uma pessoa na calçada.

Uma pessoa cumprimentou-me,
Respondi-lhe com um sorriso.
Ela, risonha, me disse assim:
Esta cidade é um paraíso!

Cortaram as árvores do rio,
Aquelas árvores frondosas
Que davam sombra e beleza
Naquelas paragens famosas.

Queria fazer umas quadrinhas
Como era o meu intento,
Saíram simples palavrinhas
Com um grande sentimento.

A meus queridos parentes
Ofereço com amizade
Estas simples quadrinhas
Que lembram nossa cidade.

A cidade de vocês é Pirenópolis,
Cidade da música e da poesia.
É lá que vocês terão muita paz
Muita saúde e alegria.

A meus filhos queridos
Eu peço com emoção:
Façam o bem para Pirenópolis,
Mas façam de coração.


Poema de autoria de Yvonne de Pina Curado, extraído do livro de sua autoria: Uma história de amor, Goiânia: Unigraf, 1983, pp 131/134.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pirenópolis: Semana Santa 2012

    A Semana Santa transcorreu debaixo de chuva e dos problemas pontuais da cidade – trânsito confuso, carros estacionados no trajeto das procissões, som automotivo incomodando todo mundo etc. Acho que vou parar de mencionar esse assunto aqui, porque parecem problemas sem fim.

    Outro dia, fui tomar um sorvete lá na Ponte de Pedra e todo mundo reclamava, com razão, do fedor de esgoto no Córrego Pratinha. Quando sairá o sistema de tratamento dos dejetos da cidade? O projeto está pronto, mas, e o dinheiro? Saiu? Está com quem? Falta o quê?

    Cerimônias aconteciam dentro da Matriz e eram interrompidas porque os desgraçados dos carros com som automotivo não paravam de transitar. Isso acontece o ano todo e ninguém faz nada! A postagem sobre abuso do som automotivo já é das mais acessadas e comentadas deste blog, mas parece que chovemos no molhado. Por que não multam, apreendem o carro e encaminham os contraventores para a delegacia de polícia? Há respaldo na lei para isso.

    Sinceramente, não sei se vale a pena continuar debatendo esse tipo de problema aqui. Acho que é melhor o blog cuidar apenas de poesias e biografias. Eu pergunto, mas não há respostas. Daqui a pouco chegará a Festa do Divino e repetiremos a mesma ladainha.

    Está boa a cidade deste jeito?

                                      Adriano César Curado










quinta-feira, 5 de abril de 2012

Restauração da Igreja do Bonfim

Foto: Adriano Luis Furini  

      A respeito da fotografia acima, escreveu Adriano Luis Furini, um dos responsáveis pela restauração da Igreja do Bonfim, em sua página no facebook:

     “Sr. Zuca, 80 anos, segunda geração de Mestre Marceneiro (carapina), que com paixão tem me ajudado na restauração da igreja (do Bonfim). Segue os passos do pai, que trabalhou na igreja até a década de 1940, cuja assinatura encostrei em vários locais. O filho, a terceira geração, tem feito a parte de marcenaria para mim. Este é o Nosso Senhor dos Passos que ganhou nova estrutura toda articulada, aposentando a antiga, emprestada provavelmente de outro santo bem menor.

      Morando na rua da igreja há gerações, são verdadeiros guardiões do nosso patrimônio, preservando com a mesma técnica e sabedoria dos antepassados, todo um conhecimento e história da Igreja do Bonfim. Assim como Dona Santinha, de 90 anos, que acompanha rigorosamente nossa obra, e outros moradores que têm nos olhos e no coração verdadeira paixão por esta igreja. Nada melhor que ver nos olhos destas pessoas o encantamento em cada etapa cumprida, fruto do respeito que temos tido com nosso trabalho de restauração, pela obra e pela comunidade. Caminhamos para o fim da restauração e a comunidade para o começo de uma nova apropriação do velho passado
.”

     Eu o questionei sobre a necessidade de restauração da imagem e ele me respondeu:

     “A antiga roca foi uma adaptação que o pai do Sr. Zuca e outros membros da Irmandade (do Santíssimo Sacramento), em certo período, ajeitou há muito tempo, para sair em uma procissão. Provavelmente, a Roca pertencente ao conjunto de cabeça e membros se perdeu ao longo do tempo, já não sendo mais a original. Os artistas eram muito qualificados neste período, ainda mais este desta imagem, que é perfeita em anatomia. Jamais colocariam uma roca desproporcional em tamanho, largura e altura, com braços de enchimento de crina de cavalo. Nas igrejas sempre tinha várias rocas, porque aí podia colocar a mesma cabeça e mãos em varias posições de acordo com cada um dos paços, quando não tinham membros suficientes para cada cena. Esta roca nova é uma segunda opção de montagem mais proporcional e segura, para a parte realmente importante, membros e cabeça, que se estragavam muito com os braços de pano, fixados com pregos no sec. XX, tendo que ser amarados à cruz, e quando soltos batiam no chão de tão compridos.

     Adriano Curado, observe o tamanho da cabeça do Cristo perto da do Senhor Zuca. A roca antiga é do tamanho dele de joelhos. A antiga está também na igreja e irá permanecer lá. Veja que a roca é um suporte, como é o chassi para uma tela, fundamentais mas nunca feito para serem vistos. Entretanto, sua qualidade é fundamental para a proteção da obra de arte, ainda mais quando estão ainda em função, como esta, que se desloca muito, pelo que vi na procissão estes dias, chegando cansada e molhada, como chegou de volta ao Bonfim. Ela está é pedindo para aposentar.”

segunda-feira, 2 de abril de 2012

S.O. S PARA BANDA PHOÊNIX DE PIRENÓPOLIS!



      "A banda centenária pede socorro!
      Formalmente ocorreu em Pirenópolis no dia 24/03/2012 a entrega de novos instrumentos para a Banda Phoênix de Pirenópolis-Go. Representantes da cultura, da prefeitura, todos os presentes, e com orgulho se pronunciaram sobre a comemoração do dia, relatando sobre o orgulho de ouvir a Banda Phoênix, até mesmo sobre o incentivo para a cultura com os novos instrumentos.

      O que ninguém ainda sabe é que desde a Festa do Divino de 2011, onde a banda se apresentou nas alvoradas, tocando de madrugada pelas ruas da cidade, nas cavalhadas onde tocam o dia todo, e nos demais festejos, a banda não recebeu sequer “um centavo” pelo trabalho realizado. E que tipo de incentivo é este, se nem mesmo os próprios músicos tem salário? Que músico profissional ensaia, apresenta seu trabalho, toca horas e horas nos festejos desta cidade tradicional na troca de salgados e refrigerantes? Enfim, que profissional sobrevive sem salário?

      Como diz o ditado “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”, é bem assim que a Banda Phoênix se mantém agora, perante os olhos da população instrumentos novos, lindos, brilhosos, aos olhos solidários e ativos, músicos sem receber, sem incentivo, sem valor. Os músicos ao leo berram seus instrumentos, chamando a atenção para a omissão em relação à remuneração da banda. Os músicos têm instrumentos e nós temos gargantas. E vamos ficar em silêncio?

      O descaso vai se transformando em brincadeira, a omissão em desculpas, e o dinheiro que deveria remunerar a banda? Bom, este deve ter virado pó. Promessas futuras para o salário da Banda no lugar de “futuro promissor”. Estamos cheios de teatrinhos, sorrisos marotos e “pegadinhas” no ombro. Pirenópolis está perdendo o respeito, a tradição, a cultura e o amor pela nossa cidade. Uma cidade fadada ao esquecimento, à ganância, à falsidade.

      Peçamos atenção às autoridades, que olhem por nossa Banda, pela música, que dêem dignidade para os músicos remunerando-os e dando valor a este trabalho maravilhoso que é a música, caso contrário estaremos perdendo a nossa banda, e não ouviremos mais o lindo “hino do divino” na porta da igreja, nem tão pouco o cortejo das alvoradas. A banda se compõe de “um bando”, um bando de gente honesta, simples e profissional que gosta do que faz, e faz maravilhosamente com muito prazer. Sem remuneração um profissional não sobrevive e tão pouco tem valor, sem valor ele desiste de tocar, com o instrumento guardado não se forma uma banda, na ausência da banda não temos festa do divino, nem o carnaval, nem qualquer outro festejo.

      Imploramos às autoridades através de um pedido, salvem nossa banda, dêem olhos e ouvidos aos músicos, remunerem os profissionais, enfim, salvem a tradição de nossa cidade, pois uma banda centenária sobrevive também de dignidade, valor, respeito e salário. A banda não é enfeite na cultura e muito menos fantoche.

      S.O. S para a Banda Phoênix, salvem-na, remunerem, é uma troca de valores, de honra e respeito.

      Como dizia Victor Hugo: 'A música expressa o que não pode ser dito em palavras, mas não pode permanecer em silêncio'."
 
Texto de autoria de Uiara Pereira de Pina, Socióloga e Bacharel em Direito, e-mail: uiarap@yahoo.com.br