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quinta-feira, 25 de junho de 2009

O imperador e sua corte 4

Saída do cortejo da casa do imperador 2009

     O Cortejo Imperial é o único momento que o imperador tem a festa somente para si. Nas outras ocasiões ele divide espaço com a Igreja (novenas) ou mesmo com outros seguimentos (banda, mordomos etc). No cortejo seguem apenas ele e sua corte, que é representada por familiares, amigos e convidados. A disposição dos membros segue a tradição e também suas ordens imediatas.



O imperador no cortejo imperial 2009

     As bandeiras principais com o símbolo do Divino foram carregadas por suas três filhas, e outras bandeiras acessórias por mocinhas vestidas de branco. Trajava ele um elegante smoking branco com gravata vermelha dentro do quadro imperial - quatro varas sustentadas por quatros meninas - ao lado da esposa. Atrás vinham seus convidados, geralmente amigos e parentes.



Crianças carregam bandeiras
Cortejo imperial 2009
Foto: Thais Valle




     No cortejo também se viam um andor caracterizado (branco e vermelho), carregado por crianças do sexo feminino, e vários arcos carregados por casais infantis com roupas típicas. Completavam os integrantes o congo e a congada.


Crianças carregam andor
Cortejo imperial 2009
Foto: Thais Valle


     E ao som da Banda de Música Fênix, sob a regência do maestro Alexandre de Pina, lá foi o imperador Marcus rua Direita afora, debaixo dum teto de bandeirolas bicoloridas e com aplausos da assistência.

Adriano César Curado

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O imperador e sua corte 3

Cavaleiros entregam as lanças do Imperador

     Ocupar o cargo de Imperador do Divino não é tarefa fácil. Exige muita paciência, disposição de tempo e dinheiro para gastar. É questão de fé religiosa, desejo de manter as tradições e, de certa forma, vocação para organizar festejos. Isso porque hoje em dia a educação do povo deixa muito a desejar. Eu vi pessoas que tomaram bandejas de salgados ou doces das mãos dos voluntários que serviam aqueles que se dirigiram à casa do imperador. Vi igualmente gente que carregava comida para casa, numa total falta de consideração e espírito comunitário.

     Marcus de Siqueira e sua irmã Natália souberam exercitar como poucos a arte de relevar e apaziguar. Embora testemunhassem acontecimentos absurdos em sua casa, nenhum dos dois se indispôs com os sem educação.



Entrega de lanças ao Imperador pelos cavaleiros das Cavalhadas

     Cito como exemplo um jantar para o cavaleiros das Cavalhadas. Enquanto transcorria o agradecimento da mesa e as catiras tradicionais, já tinha gente cara de pau que começava a se servir da comida. Fato impensável na Pirenópolis de algumas décadas atrás, quando todos sabiam se portar, já que a educação começava em casa e terminava na escola.



     E por falar em cavaleiros, uma das partes mais bonita da festa é protagonizada por eles. Falo da entrega das lanças ao imperador, marco do fim dos ensaios e véspera do início das Cavalhadas. Esse acontecimento se deu na quinta-feira (28.05.2009), quando mouros e cristão se enfileiraram em frente ao casarão dos Siqueira, na rua Direita, e um a um se dirigiram ao festeiro, beijaram a vara com que ensaiaram por duas semanas as coreografias e a entregaram simbolicamente.

Adriano César Curado

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O imperador e sua corte 2

A casa do Imperador

      Na rua Direita, nº 38, no Centro Histórico de Pirenópolis, fica o casarão colonial da família Siqueira e onde o imperador Marcus instituiu sua corte. Ali mandou preparar um cômodo apenas para instalar a coroa e o cetro, símbolos do seu império, construiu barracão no amplo terreiro e abriu o quintal para melhor acomodar a multidão que o visitou por todos os dias de festança.

     Naquela casa já moraram grandes músicos e teatrólogos. O pai de Marcus, Gedeão de Siqueira, era um exímio músico, tanto que, nas tardes calmas da velha Pirenópolis, após o jantar, sentava-se tranquilamente numa cadeira e, enquanto palitava os dentes, empunhava sua flauta e tocava para os pássaros. Era o seguinte. Gedeão imaginava que os fios da rede elétrica fosse um risco de partitura e a posição de cada passarinho ali sentado, uma nota musical. Grande gênio!








     Marcus e Natália são irmãos de Alaor, um dos que organizam a peça As Pastorinhas.

Adriano César Curado



segunda-feira, 15 de junho de 2009

O imperador e sua corte 1





     A Festa do Divino de Marcus de Siqueira foi bastante organizada e cheia de atrativos. O imperador não economizou com fogos e bombas. Não era difícil acordar no meio da madrugada com suas descargas de ronqueira, explosões capazes de fazer qualquer um saltar da cama para correr atrás duma alvorada. 


     Sua residência, localizada na rua Direita, foi elegantemente paramentada para o final de semana da festa, com bandeiras vermelhas e uma pomba branca ao centro nas janelas, e construiu um amplo e arejado galpão para recepção dos visitantes. 

     Toda a extensão da rua Direita até chegar na igreja Matriz foi enfeitada com bandeirolas vermelhas; algumas casas da vizinhança também se paramentaram com bandeiras nas janelas, o que causou um agradável aspecto.

     O único inconveniente foi mesmo a chuva. Embora o trajeto do cortejo entre a casa do imperador e a Matriz tenha sido apenas com céu fechado, o mesmo não se diga do retorno, quando desabou um temporal daqueles. 


     Mas isso por si só não foi o suficiente para tirar o colorido da festa, e quando a missa solene terminou, o povo se reuniu outra vez à sua porta, local onde se distribuiu o docinho verônica, um precioso alfenim de açúcar alvíssimo e com motivos religiosos encrustados.

     No Sábado do Divino (30.05.2009), exatamente ao meio-dia, a Banda Fênix tocou na lateral poente da igreja Matriz, junto à torre do sino, ocasião em que se apresentaram também a contra-dança, alguns passos de As Pastorinhas infantil, o congo e a congada. 


     Nesse ínterim, os mascarados apareciam aos poucos, alguns com máscaras gigantescas de boi, outros com vestimentas custosas e sofisticadas, mas todos com alegria contagiante e espírito de paz. Quando as apresentações terminaram, o imperador saudou Pirenópolis com grande foguetório.

     À noite o padre celebrou o encerramento da novena, ergueram o mastro ao som maravilhoso da banda e uma tímida fogueirinha brilhou. Mas quando a população desceu para a beira do rio das Almas, pôde contemplar um esplendoroso espetáculo pirotécnico, desses de ficar na história.


Adriano César Curado