Tive uma infância muito boa. As férias escolares eram enormes e mal terminavam as aulas eu corria para a fazenda do meu avô Zé Lulu. Lá tinha muito espaço e um universo enorme a ser explorado. Com cinco anos eu possuía meu próprio cavalo e labutava tangendo gado no adjutório ao vovô. Mas quando chovia, e naquele tempo chuva era mato, então a gente ficava confinado em casa. Ainda bem que era um casarão enorme, assoalhado de cedro, com janelões que deixava a luz entrar e bagunçar a imaginação da gente. Como demorava semanas para a estiagem chegar, a solução era lavar a roupa e pôr para secar em cima do fogão a lenha, ao lado das linguiças defumadas e dos queijos curados. Meu avô então ria e dizia: “menino, você está cheirando pão de queijo”.
Páginas
▼
domingo, 25 de agosto de 2024
sábado, 10 de agosto de 2024
A igreja dos Pretos
Quando o português Manoel Rodrigues Tomar chegou por aqui em 1727 e descobriu ouro no rio das Almas, mandou vir uma multidão de mamelucos paulistas e escravizados africanos para garimpar. Logo construíram ranchos e depois casarões. O tempo escoou e nasceu uma cidade chamada Meia Ponte, com um belo templo apelidado de Matriz. Ali os escravizados e descendentes não podiam entrar, e então eles se uniram e construíram uma capela no lado oposto, mas com a fachada voltada em desafio para a Matriz. Era a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que hoje não mais está lá.
Esta obra da artista plástica Mara Velvet retrata tudo isso: o azul remete aos azulejos portugueses e a igreja dos Pretos se sobressai ao final da rua do Rosário. Quando se conta a história, a tela é vista com outros olhos.