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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música




     Já era antiga a ideia de fundação de uma academia de letras em Pirenópolis, mas nenhuma delas deu certo. Até que, em julho de 1993, numa conversa entre o escritor Arnaldo Setti, de Brasília, e Wilno Pompeu de Pina, no Hotel Quinta Santa Bárbara, renasceu os planos de organizar um grupo de escritores em torno duma academia. Mais tarde, os dois visitaram Maria Eunice Pereira Pina, que mantinha um museu em sua casa dedicado às Cavalhadas, e obtiveram seu apoio. Os contornos da futura academia seriam traçados naquele mesmo dia num chá na casa de Wilno, situada na rua Nova.

Casarão de Wilno de Pina, na rua Nova,
local do traçado dos primeiros contornos da Aplam

      A partir desse pontapé inicial, Maria Eunice abraçou a ideia e começou a contactar pessoas para trazer o sonho à realidade. Para isso contribuiu sobremaneira o jornalista José Raimundo Reis da Silva, morador de Brasília, mas com casa na rua do Rosário, e que publicava na cidade, juntamente com Maria Eunice, o jornal cultural Nova Era.

     Para que a academia nascesse, primordial foi o apoio e a experiência dos acadêmicos da Academia de Letras de Brasília (Acleb), a mãe cultural da nossa Aplam. E é bom lembrar, também, que a partir da segunda reunião, abraçou a ideia da Academia o escritor e poeta Luiz de Aquino Alves Neto, que foi um dos sócios-fundadores e, mais tarde, tornou-se seu presidente.





     No dia 26 de março de 1994, na casa de Maria Eunice, foram traçados os planos iniciais para a concretização do projeto da academia. Estavam presentes: Maria Eunice, Arnaldo Setti, José Reis, Emílio Terraza, Natália de Siqueira, Wilno de Pina e Adriano César Curado. Sob protestos, Setti bateu o pé para que, em vinte dias, acontecesse a fundação da academia. Iniciou-se um corre-corre para dar conta dos preparativos, convidar pessoas, elaborar estatuto, nome de patronos e de acadêmicos. A denominação primitiva era Academia Pirenopolina de Letras e Artes Jarbas Jayme.

     Maria Eunice, com uma pequena aposentadoria, arcava sozinha com as despesas e ainda achava tempo para tocar o Museu das Cavalhadas, selecionar artigos para o Jornal Nova Era e dar atenção para a família. Não fosse a ajuda do professor José Jayme, que elaborou a lista de patronos, o exíguo prazo seria insuficiente. Com Adriano Curado ficaram as postagens, a lista de contatos, a impressão dos convites e a biografia dos patronos; para baixar os custos, e sem que Maria Eunice soubesse, em vez de imprimir todos os convites, fotocopiou-os em papel mais grosso, e no lugar de postar nos Correios, colocou os de Pirenópolis debaixo das portas.

     No dia 16 de abril de 1994, depois de alguns ajustes, Arnaldo Setti, José Jayme e José Mendonça Teles concluíram a lista de patronos e acadêmicos. Precisamente às 17h00, no Museu das Cavalhadas, foi declarada fundada a Aplam. Encontravam-se presentes: José Sisenando Jayme, Luiz de Aquino Alves Neto, José Mendonça Teles, Vera Lopes Siqueira, Joaquim Thomaz Lopes, Ita e Alaor de Siqueira, Maria Inês Curado, Jurema de Zé do Pina, Nilse Jacinto, Valdo Lúcio Cardoso, José Raimundo Reis, Wilno Pompeu de Pina, Naziam Brandão, Adriano César Curado e cinco acadêmicos da Academia de Letras de Brasília, a saber, Arnaldo Setti, Victor Tannuri, Mauro Castro, José Carlos Gentili e Murilo Moreira Veras. Aos presentes foi servida farta mesa de quitandas, doces e salgados, acompanhados de sucos e licores.

     Ninguém contava com a presença do historiador Paulo Bertran, que recebeu o convite e compareceu de última hora. Então foi-lhe dada a opção de escolher seu patrono e ele optou por Urbano do Couto Menezes, por conta da fundação de Pirenópolis.




     Naquela mesma noite, precisamente às 20h30, no restaurante do Hotel Quinta Santa Bárbara, presente grande número de convidados, Maria Eunice abriu a solenidade com um breve discurso e em seguida passou a palavra a José Mendonça Teles, presidente da Academia Goiana de Letras.

     Teles falou da presença da mulher na cultura goiana e pirenopolina, sitou Maria Eunice, Cora Coralina e Mestra Silvina. Na sequência, Ana Maria, esposa de Teles, leu a ata e comunicou que Pirenópolis já tinha uma Academia de Letras, que também contemplava as artes em geral e a música. E sob aplauso, considerou-se aquela a primeira reunião, enquanto que a posse seria noutra data a ser marcada.

     O melhor da festa foi o discurso de José Jayme que, de cabeça, discorreu de forma leve e engraçada sobre a biografia de todos os vinte e seis patronos. Aquela foi sua última aparição pública, ele morreu pouco tempo depois. Também naquela noite chegou a notícia da morte, em Goiânia, do professor, jornalista e escritor Anatole Ramos.
      A lista de membros fundadores da Aplam é:
CADEIRA Nº 01 – Patrono Jarbas Jayme – Acadêmico José Sisenando Jayme
CADEIRA Nº 02 – Patrono Joaquim Thomás de Aquino – Acadêmica Benedita Lopes Siqueira
CADEIRA Nº 03 – Patrono Pr Luiz G. de Camargo Fleury – Acadêmico Joaquim Thomás Lopes
CADEIRA Nº 04 – Patrono José Joaquim da Veiga Valle – Acadêmica Maria Eunice Pereira Pina
CADEIRA Nº 05 – Patrono Antônio da Costa Nascimento – Acadêmica Celuta Mendonça Teles
CADEIRA Nº 06 – Patrono Padre Francisco Inácio da Luz – Acadêmico Arnaldo Setti
CADEIRA Nº 07 – Patrono Inácio Pereira Leal – Acadêmico Pérsio Ribeiro Forzani
CADEIRA Nº 08 – Patrono Desor. Luiz Luiz Gonzaga Jayme – Acadêmico Adahil Lourença Dias
CADEIRA Nº 09 – Patrono Silvino Odorico de Siqueira – Acadêmico Alaor de Siqueira
CADEIRA Nº 10 – Patrono João Luiz Teixeira Brandão – Acadêmico Naziam Brandão Siqueira
CADEIRA Nº 11 – Patrono Sebastião Pompeu de Pina – Acadêmico Pompeu Christovam de Pina
CADEIRA Nº 12 – Patrono Joaquim Propício de Pina – Acadêmico Joaquim Thomás Jayme
CADEIRA Nº 13 – Patrono Antônio José de Sá – Acadêmico Isócrates de Oliveira
CADEIRA Nº 14 – Patrono Vasco da Gama Siqueira – Acadêmico Murilo Moreira Veras
CADEIRA Nº 15 – Patrono Manuel Hermano da Conceição – Acadêmico Mauro Castro
CADEIRA Nº 16 – Patrono Natércia de Siqueira – Acadêmica Natália de Siqueira
CADEIRA Nº 17 – Patrono Luiz de Aquino Alves – Acadêmico Luiz de Aquino Alves Nesto
CADEIRA Nº 18 – Patrono José Assuero de Siqueira – Acadêmico Vera Lopes de Siqueira
CADEIRA Nº 19 – Patrono Joaquim Pompeu de Pina – Acadêmico Victor Tanuri
CADEIRA Nº 20 – Patrono Maria Fleury – Acadêmico Celestina Pereira Siqueira
CADEIRA Nº 21 – Patrono Amphilophio de Alencar Filho – Acadêmico José Carlos Gentille
CADEIRA Nº 22 – Patrono José Luiz de Campos Curado – Acadêmico Carlos Hercílio
CADEIRA Nº 23 – Patrono Irnaldo Jayme – Acadêmico José Raimundo Reis da Silva
CADEIRA Nº 24 – Patrono Brás Wilson Pompeu de Pina Filho – Acadêmico Alexandre de Pina
CADEIRA Nº 25 – Patrono Comm Joaquim Alves de Oliveira – Acadêmico José Mendonça Teles
CADEIRA Nº 26 – Patrono Urbano do Colto Menezes – Acadêmico Paulo Bertran

Adriano César Curado

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A TAPERA DA RUA MATUTINA



     Um casarão antiquíssimo, em pleno Centro Histórico de Pirenópolis, infelizmente virou tapera. Localizado na rua Matutina (aquela que termina no fundo da Matriz), o velho imóvel está todo comprometido, com as paredes já tortas em vias de desabar. Não há mais como recuperá-lo. Se não desabar a qualquer momento, terá de ser demolido.



     Suas paredes externas são de adobe, mas as internas foram levantadas em taipa-de-mão (o popular pau-a-pique), o que comprova que se trata duma construção bem velha. Fotografei com detalhe uma das paredes, para aqueles que nunca viram o pau-a-pique.




     Os janelões azuis, que antes se abriam para a rua e dali expiavam seus moradores, agora estão trancados para sempre. Embora ainda persistam valentes os esteios e cumeeira de aroeira, o tempo pesou sobre as paredes e elas entortaram fatalmente.





     Os cômodos que davam para o quintal infelizmente já desabaram, e deles só resta a armação do telhado. E eu penso cá com meus botões: quantas festas já fizeram naquela casa! Quantos aniversários ali comemoraram, casamentos celebrados, batizados de pessoas de quem ninguém mais se lembra. É triste ver apagar a memória!




     Pelo que soube, o casarão arruinado pertencia a uma pirenopolina (não é o caso de mencionar seu nome), que o recebeu de herança e vendeu a estrangeiros. Esses por sua vez deixaram que infiltrações e outros males comprometessem a estrutura do imóvel, sem nunca aparecer para conferir suas instalações. Ou seja, compraram e abandonaram.



     Não é incomum situações como a do imóvel da rua Matutina. Já presenciei a ruína ou demolição de muitos casarões históricos. E isso ocorre porque quem deveria fiscalizar não o faz. Por conta da inércia do Poder Público, em 2007 o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro protocolou uma ação contra o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Petrópolis, para que o órgão cobrasse providências dos donos de bens tombados em vias de ruir. Mais tarde a decisão valeu para todo o Brasil.


     O Iphan alegou que não usava seu poder de polícia porque faltava a normatização das regras para a aplicação das multas. Mas por conta da sentença de Petrópolis, a normatização está pronta e o órgão já pode começar a multar. Trata-se da Portaria nº 187/2010 (do Iphan), publicada no dia 11.6.2010, que regulamenta os procedimentos para apuração de infrações cometidas contra o patrimônio cultural e que entrou em vigor no dia 9.10.2010. Agora, pelo menos em tese, quem danificar um bem com tombamento nacional poderá ser notificado e multado.

Fonte – sites:
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=15617&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia
http://www.cultura.gov.br/site/2010/08/19/dano-a-patrimonio-agora-vale-multa/

Adriano César Curado



sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Canto da Primavera ( V )


No dia 16.10.2010, a Orquestra Goyazes foi o verdadeiro sucesso do fechamento desse festival de música, por isso merece um capítulo à parte neste espaço.




Sua esmerada apresentação no prédio do cinema levou o público ao delírio, como se pode conferir no vídeo abaixo. Fundada em 1999 por músicos oriundos da antiga Orquestra Filarmônica de Goiás, tenho por mim que sua apresentação foi o auge do evento.




O saxofone solista de Dilson Florêncio merece aplauso e exaltação. Esse músico, que estudou em conservatório de Paris, lutou pela criação de um curso de saxofone na UnB (Universidade de Brasília), e tornou-se o primeiro professor universitário no Brasil dedicado exclusivamente ao saxofone.




by Adriano César Curado

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Canto da Primavera ( IV )


As oficinas continuaram sexta-feira, dia 15.10.2010, e no sábado seguinte. Do show de Alice Galvão e Juraíldes da Cruz gostei bastante, mas o do Torre de Babel não posso falar, pois não consegui assistir por conta da fila para entrar. Uma pena.




Mas a apresentação da cantora Mônica Salmaso com a conjunto Pau Brasil foi maravilhosa. O teatro não cabia mais ninguém e tiveram de fechar as portas, para a segurança dos presentes, já que a estrutura do velho edifício não suportaria excesso de público.




O XI Canto da Primavera de Pirenópolis pode ser definido como um sucesso, no que pertine à qualidade musical das apresentações, mas uma lástima no quesito organização. Como a Agepel (Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico) foi a responsável por todo o evento, cabendo à Prefeitura Municipal apenas dar suporte, é àquela que devem ser dirigidas todas as críticas.




A palavra de ordem do festival é desorganização. Absoluta desorganização. Até o meio da tarde de terça-feira (12.10.2010), ninguém sabia ao certo quais seriam as programações e os locais de sua apresentação. Isso porque o folder somente foi distribuído na horinha de iniciar o primeiro evento.




Outro revés que acontece todo ano e a Agência não corrige é a truculência dos seguranças com o público, gente despreparada, selecionada às pressas e sem formação alguma. Vestidos de paletó preto, metiam a mão do peito das pessoas – aqui não pode passar!




A desinformação foi o maior pecado da Agência. Mudaram diversos eventos de lugar e não se dispuseram a orientar os perdidos. O show da Mônica Salmaso (dia 14.10.2010), por exemplo, era no Palco do Rosário, mas foi transferido para o teatro, só que não colocaram sequer um funcionário no primitivo local para avisar os que se orientaram pelo folder errado.




Outro erro. Marcaram a apresentação da Orquestra Goyazes na igreja Matriz às 10 horas de domingo, mas não observaram que o templo não é um museu, e a apresentação coincidiu com as missas. A solução foi improvisar o cinema. E adivinhe se mandaram alguém avisar lá na porta da igreja!





by Adriano César Curado

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Canto da Primavera ( III )

Dia 14.10.2010, as oficinas continuaram, com a presença do calor e a curiosidade patética de alguns. Contaram-me que faltou papel higiênico nos banheiros e que sequer serviram um lanche aos participantes. Cadê a Agepel, responsável pelo evento?




Johnson Machado e Duo 13 mostraram atuação extremamente profissional na execução das peças musicais e o público está de parabéns pelo silêncio impecável.




Para quem gosta de alta erudição, caiu como uma luva o espetáculo desses músicos sublimes.




Para quem não é tão erudito assim, os sertanejos serviram para balancear a equação. A jovem dupla Marcos Henrique e Santiel foi revelada no filme “2 Filhos de Francisco”.





Ouvi muita gente criticar a presença desses cantores no evento, mas creio que a diversidade musical é importante. A perpetuação da cultura está na quantidade de segmentos sociais que agrega.






Apesar de muitos torcerem o nariz, a casa ficou cheia e os garotos cantaram afinadinhos e encantaram.



by Adriano César Curado

domingo, 17 de outubro de 2010

CANTO DA PRIMAVERA ( II )

No dia 13.10.2010, uma quarta-feira pós-feriado, começaram as oficinas musicais com alguns mestres. O tempo é curto demais para uma efetiva troca de conhecimento e a amplitude dos caminhos da música inviabilizam qualquer resultado mais efetivo.



Entretanto, vale pelo convívio com bons músicos, pela experiência contada na sala de aula e pelo entusiasmo dos que se dispõem a ficar o restante da semana trancados numa sala.



E por falar em sala, as instalações físicas das oficinas foram horríveis, com um calor insuportável no Colégio Joaquim Alves, sem ar condicionado, e ainda a falta de controle do acesso de curiosos.




Às 20 horas começou o belíssimo espetáculo musical “O tal do quintal”, dirigido por Demétrio Pompeo de Pina, no prédio do teatro.




Essa singular peça veio com exploração de elementos da cultura popular dentro dum enredo bem costurado e diversificado.





Aplaudo com louvor a atuação artística das senhoras de xale, que emocionaram os presentes numa afinada cantoria da época dos nossos avós.





Que lindo! Deveríamos ter mais exaltação das tradições locais!





by Adriano César Curado

sábado, 16 de outubro de 2010

CANTO DA PRIMAVERA ( I )


O primeiro dia do XI Canto da Primavera foi 12.10.2010. E depois dos discursos, veio a parte boa, com apresentação impecável da Banda Pequi, que para mim é uma orquestra completa.




A única ressalva é que, na minha opinião, a abertura deveria ser com a Banda Fênix, para prestigiar nossa cultura local.




À meia-noite em ponto começou a serenata com os trovadores dos Pireneus, comandados pela afinada Mirna, na porta do teatro.




E na sequência o grupo saiu pelas ruas históricas da velha Meia Ponte, naquele relembrar saudoso de temos que não voltam mais. Sonolentas, algumas pessoas assomavam às janelas, meio sem entender que se passava.




Quem deu as caras recebeu uma canção de presente, das várias de sortido repertório dos cantores.





Não foram muitos os que se dispuseram a deixar a quentura da cama para apreciar boa música e recepcionar os trovadores, mas ainda assim valeu participar de tão comovente evento.




As candeias de luz amarelada derramavam uma certa nostalgia no ambiente, e eu tinha, a todo momento, impressão de que algum coronel apareceria de repente e convidaria a gente a entrar nalgum casarão e apreciar um licor de jabuticaba com sequilho.




A serenata saiu da porta do teatro, virou na rua Nova, depois na Direita, desceu a Rosário, subiu a Aurora e foi morrer na porta do Bonfim.




Um trajeto mais romântico e pirenopolino que esse, impossível. E por fim, todos recebemos as bênçãos simbólicas de N. S. Do Bonfim.




Essa foi a parte mais pirenopolina do Canto da Primavera, já que este ano não tivemos a apresentação da Banda de Música Fênix.




by Adriano César Curado